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De Beirute a Nova York

De Brasília a Teerã - Imagem do Brasil se deteriora no Conselho de Segurança da ONU

O Brasil teve a sua imagem deteriorada dentro do Conselho de Segurança e ficou praticamente inviável o sonho de conseguir uma vaga no órgão decisório máximo das Nações Unidas depois do voto contra as sanções ao Irã. E, segundo conversei com diplomatas do conselho, os mexicanos se beneficiaram da posição brasileira contrária aos interesses dos Estados Unidos e seus aliados.

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Por gustavochacra
Atualização:

A Rússia é um dos países mais irritados com os brasileiros. Moscou não gosta desta postura do Brasil e mesmo da Turquia como potências emergentes que pretendem se envolver em questões internacionais. Sem o peso econômico, os russos não querem mais rivais geopolíticos, além dos EUA, China e Europa ocidental. Por este motivo, a administração de Dmitry Medvedev foi rápida ao anunciar um acordo com os EUA para a resolução, no dia seguinte ao pacto de Teerã, entre brasileiros, turcos e iranianos.

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A França admira as posições brasileiras em órgãos como a Organização Mundial do Comércio, dentro do âmbito do G-20. Também vê o Brasil como fundamental na América Latina e chegou a defender abertamente o ingresso do Brasil no Conselho de Segurança, uma das prioridades da política externa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

"Mas o Oriente Médio e o Irã não têm a ver com o Brasil. Eles não conhecem bem o tema e entraram nesta discussão agora, enquanto França, Inglaterra e Alemanha há anos tentam negociar com os iranianos", disse um diplomata francês. Eles entendem a posição da Turquia, vizinha e com boas relações comerciais com o Irã, mas não do Brasil, que ainda possui um comércio apenas incipiente com Teerã.

Para os integrantes europeus do órgão, parece que os brasileiros nunca souberam das tentativas de negociações anteriores do Sexteto, composto pelos cinco membros permanentes mais a Alemanha, com o regime de Teerã, que sempre refugou depois de dizer sim em um primeiro momento. Em seu discurso, ao anunciar o voto a favor da resolução 1.929 contra o Irã, o embaixador francês no CS, Gerard Araud, fez questão de delinear todas as tentativas de acordo com os iranianos nos últimos anos. Em uma delas, os europeus chegaram a propor o ingresso iraniano na OMC em troca da suspensão do enriquecimento de urânio.

Segundo um diplomata do alto escalão dos Estados Unidos no Conselho de Segurança, que pediu para não ser identificado, "um país (o Brasil) que aspira ter um papel de liderança global deveria defender o sistema internacional e suas regras, não quem as viola". O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, também lamentou a posição de brasileiros e turcos. "Eu acho que os votos de Brasil e Turquia decepcionaram. Nós obviamente temos uma diferença de opinião", afirmou. O secretário da Defesa, Robert Gates, também se disse decepcionado com os turcos, apesar de não citar o Brasil.

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Diplomatas de países na CS dizem ainda que os mexicanos foram quem se saíram melhor com o processo de resolução. O México ocupava a presidência do Conselho de Segurança na votação e trabalhou junto com os países membros para tentar aprovar a resolução o mais cedo possível, priorizando o tema na agenda do órgão. Além disso, os mexicanos nunca viram com bons olhos a candidatura do Brasil a membro permanente, já que o México é a segunda maior economia da América Latina e não tinha interesse em ver um rival local de forma definitiva no conselho. Para eles, o status quo é melhor do que um conselho com potências emergentes, como o Brasil, mas não o México.

Por outro lado, os diplomatas admitem que, apesar de estar mais distante do CS, os brasileiros demonstraram que podem servir de canal de negociação com o Irã, como afirmou a secretária de Estado Hillary Clinton. Os brasileiros também tiveram a sua posição admirada pelo Irã e outros países não alinhados, que consideram o México fantoche dos Estados Unidos. Jornais no Oriente Médio davam destaque para a postura independente do Brasil depois da votação.

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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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