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A teoria do Black Swan (Cisne Negro), do milionário libanês e professor da NYU, Nicholas Nassim Taleb, se aplicou perfeitamente à crise síria. Há semanas, a discussão era se os EUA, com o apoio de alguns aliados, deveriam intervir ou não na Síria em resposta ao ataque químico atribuído às forças de Bashar al Assad pelo governo americano - o regime sírio nega e não há confirmação independente.
Tudo mudou ontem quando o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, afirmou, em entrevista coletiva, que a única opção para evitar um ataque seria a Síria abdicar imediatamente das armas químicas. Mas, segundo o chefe da diplomacia americana, isso seria impossível de acontecer.
Surpreendentemente, isso aconteceu. Horas depois de Kerry falar, o chanceler da Rússia, Sergey Lavrov, encampou a ideia. Disse que governo russo apoiava. Imediatamente, o ministro das Relações Exteriores da Síria afirmou receber bem a proposta. À noite, embora mantendo a cautela, o presidente Barack Obama já celebrava a ideia. Hoje veio a resposta oficial, e positiva, do regime em Damasco.
A próxima etapa será uma resolução no Conselho de Segurança, que já começou a ser redigida pela França. A Rússia tende a apoiar, pois foi a idealizadora da proposta. O consenso chega à comunidade internacional. O Congresso dos EUA, por enquanto, não precisará decidir sobre uma intervenção.
Quase todos saem beneficiados. A Rússia por ter idealizado a proposta. Os EUA por, pelo menos agora, não precisarem se envolver em uma mais uma guerra no Oriente Médio. Obama por não correr o risco de perder no Congresso. Deputados e senadores por não terem a necessidade de adotar posições em um conflito impopular nos EUA. Assad porque não será bombardeado e manterá o apoio da Rússia, além de seguir sem restrições no uso de armamentos convencionais. A oposição perde por não ver um bombardeio que alteraria a balança de poder, mas ganha ao ver seu adversário sem armas químicas.
Claro, o ceticismo deve ser elevado nesta questão. Não dá para confiar no regime de Assad. Mas, se a Rússia estiver séria, Damasco precisará colaborar.
Agora, o que me pergunto é - Por que ninguém teve esta ideia antes? Nenhum diplomata, nenhum militar, nenhum analista, nenhum deputado, nenhum presidente? Na verdade, muitos até tiveram. Mas ninguém imaginou que a Rússia e a Síria aceitariam tão facilmente. É o Cisne Negro.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
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