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Sabemos que os Estados Unidos e seus aliados europeus acusam o regime sírio pelo ataque químico há uma semana. Também sabemos que a Rússia e Bashar al Assad acusam a oposição pelo uso deste arsenal de destruição em massa. Por último, temos a ONU, que mantém a cautela e não acusa ninguém por enquanto.
Caso tenha sido Assad, muitas perguntas foram formuladas. Por que usar armas químicas se não há limite imposto para vítimas civis com o uso de arsenal convencional? Por que atacar justamente agora, com o regime conquistando avanços na Guerra Civil? Por que realizar o ataque com inspetores da ONU no país em uma investigação de outros ações com armas químicas? Por que realizar o ataque em Damasco, berço do regime e, tirando alguns subúrbios, como o atingido, integralmente controlada pelas Forças de Assad? Não seria mais simples usar em regiões controladas pela oposição ou em disputa?
Nunca saberemos, mas existem duas versões que têm crescido, com uma delas já publicada na imprensa francesa e discutida entre consultorias de risco político.
Quem acompanha o conflito na Síria sabe que os EUA e seus aliados europeus e do Golfo Pérsico treinam opositores sírios na Jordânia. Alguns deles integravam as forças especiais de Assad até o primeiro semestre de 2012, quando deixaram o país naquela onda de deserção. Nos últimos meses, comandos formados por eles, com o apoio de americanos, europeus e árabes do Golfo, têm realizado incursões na Síria. O alvo tem sido Damasco, e não Aleppo e o norte, onde há controle rebelde, mas normalmente de facções radicais.
O regime de Assad estaria irritado com esta intervenção, especialmente pelo apoio de americanos e europeus. Estes comandos vinham obtendo sucesso em algumas de suas operações, às vezes atribuídas equivocadamente à Frente Nusrah, uma facção opositora ligada à Al Qaeda. Diante deste cenário, Assad decidiufrear estas operações por meio de uso de armas químicas.
Isso explica ter sido uma ação próxima a Damasco (é onde estes comandos operam), neste momento (era quando eles realizavam ações) e apesar das vitórias em Qusayr e Homs (o temor de estes comandos passarem a conquistar espaço). Mais importante, também explica a certeza americana e europeia de ter sido Assad o responsável - cidadãos destes países, que entraram com os comandos, teriam morrido ou ficado feridos.
A outra explicação seria um general ter agido à revelia de Assad. Há relatos de que a administração Obama teria ouvido conversas entre um membro do alto escalão do Ministério da Defesa conversando em pânico com o responsável pela unidade de armas químicas.
Também não podemos descartar um erro de cálculo do líder sírio - ele teria errado da mesma forma no atentado contra Rafik Hariri em 2005, no Líbano, que obrigou a Síria a retirar suas tropas. E, por último, pode sim ter sido uma ação realizada pela oposição, com ou sem a participação de agentes externas, para incriminar Assad.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires