Sábado Livre: a nova música livre brasileira

O blog desta semana é 'A Musicoteca', que reúne o que há de melhor, novo e diferente na música brasileira

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Por Murilo Roncolato
Atualização:

O mineiro Weberth Mota, 26 anos, já estava cansado de sempre ouvir a mesma falácia durante discussões sobre música brasileira: “Ninguém mais produz coisas diferentes, não há nada novo!”. Ele decidiu então procurar por conta própria que música estava sendo feita por aí, o que havia de diferente, bom e novo.

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Desse impulso nasceu A Musicoteca, blog tocado por Mota e outros quatro colaboradores (originalmente leitores do blog).

Se antes o ato de ir à rua caçar coisa nova era fundamental para o conteúdo do site, hoje nem tanto. Atualmente artistas novos, que querem mostrar seu primeiro trabalho ao público, vão atrás do blog e se apresentam.

Tudo é, então, ouvido, filtrado, aprovado (ou não), catalogado, e disponibilizado para download. “Esse é o nosso diferencial, tudo é selecionado e exposto de uma maneira agradável e fácil para o leitor”, diz Mota (leia a entrevista abaixo).

 

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O blog existe desde 2003, já virou trabalho ou ainda é hobbie? Começamos com ele no Blogspot, fomos para o WordPress, a coisa cresceu e aí tivemos de comprar o domínio, mas ainda hoje ninguém ganha nada com ele. Tanto eu quanto os colaboradores, todos têm seu trabalho desvinculado — eu trabalho com marketing de moda — e o blog acaba sendo nosso esporte. É bom não ter publicidade porque as páginas ficam mais limpas, o visual é mais atraente. É nosso diferencial, porque blogs de música normalmente são muito poluídos, não têm as informações completas do artista, o contato, colocam o conteúdo para download sem autorização. Na Musicoteca, os leitores baixam os CDs direto do nosso site, tudo autorizado.

Não tem interesse em ganhar dinheiro com o blog? Estamos vendo isso. Atualmente tem uma proposta de uma empresa de tecnologia que quer criar uma rede social de música brasileira e está estudando meios de vincular a Musicoteca com isso. Ainda estamos discutindo.

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Como o blog começou? Quando vim para São Paulo comprava um CD novo e publicava minha opinião sobre ele. Daí apareceram leitores e discussões dizendo que não surgia ninguém novo no mercado. Com isso eu comecei a me dedicar a achar coisa nova. De Belo Horizonte, leitores mandavam as novas bandas que surgiam nos palcos underground de lá, me mandavam discos, eu ouvia e publicava. Em São Paulo eu passei a sair muito e frequentar lugares que sempre tem gente boa e independente tocando, como Studio SP, Cafe Paon, Tapas, Jazz nos Fundos, Bar da Vila. Com o tempo peguei o contato da maioria dos artistas, eles já conhecem o site e me procuram para botar o CD deles lá, o que é ótimo, já que antes era só o que eu encontrava. Hoje a gente quer ter um acervo de música nova brasileira, música livre. Temos por volta de 250 artistas no acervo atualmente.

E esse papo de que “atualmente não tem mais coisa boa”. O que diz quando ouve isso? Eu digo que o cara está perdendo o tempo dele com esse papo. Mas ainda dá para correr e conhecer coisa nova legal. E pela música você acaba conhecendo as novidades de outros campos de arte. Eu conheci muito artista plástico, ilustrador, escritores, lojas novas e de ótima qualidade. Quem ignora a música nova brasileira, ignora a cultura em geral.

Para artistas novos serem conhecidos pelo público hoje, ele tem que passar pela internet? Para conseguir entrar hoje, não só no mercado de música, mas na arte, ele tem que fazer algum trabalho de acesso livre. Hoje em dia é muita coisa acontecendo de modo livre, não tem como colocar um material e querer só o retorno, a grana. A não ser que seja um cara com um trabalho extraordinário, muito bacana. Mas é raro.

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Os posts normalmente são bem curtos. Há um preocupação com isso? Temos apenas uma coluna que o Lucas Rossi faz que é uma pouco maior. Mas é só, há sim uma preocupação com texto pequeno. O espaço é para experiência de música e não de longas críticas de música, ali estão impressões de primeira leitura. Até por isso a gente se preocupa em não rotular nenhuma música, nenhum artista, não damos gêneros “samba”, “rock”, nada disso. É tudo música.

Como é feita a seleção dos artistas? Quais são os critérios? Somos nós mesmos que decidimos. Existe uma questão clara da qualidade. Tem de ser algo que fuja do óbvio. E eu e os colaboradores temos gostos muito diferentes, um gosta de rock, a outra de bossa nova, jazz; o outro é mais choro, moda de viola; eu gosto de música regional. Mas é bem variado e, por isso, não tem o risco de ficar um estilo único. No blog temos música erudita, pop, rock, samba. Tem de ser diferente.

 

De onde estão surgindo os artistas da nova música brasileira? Para mim, Pernambuco é o pólo da música contemporânea brasileira, com sotaque e ritmo muito marcados mesmo. É um celeiro de coisas novas, como Karina Buhr, China, Mombojó. E são bandas que vem ganhando espaço em São Paulo. Além de Pernambuco, tem Brasilia (Móveis Coloniais, a rapper Flora Matos), Minas Gerais (Pedro Morais, o pessoal do Graveola, Luiz Lopes, as meninas do Fofoca Erudita). Mas isso são os lugares de onde mais brotam. No blog tem gente de Manaus, do Acre, do interior do interior.

Como é a relação com os leitores? A gente teve uma queda muito grande de comentários no site, porque ela se dá por redes sociais. O número de visitas aumentou pelo menos uns 300% nos últimos tempos, todas de gente vindo do Facebook e Twitter. Pelo Twitter, inclusive, nós conseguimos acelerar a interação artista-site-leitor. No site havia um delay muito grande para o artista ver o comentário e responder.

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Por colocarem conteúdo para download, vocês já tiveram algum problema? Juridicamente não. Mas já vieram muitos artistas que mandaram os trabalhos deles quando ainda eram independente, e aí acabaram fechando contrato com alguma gravadora e vinham pedir para tirar o link do ar. A gente tira, numa boa. Fico até feliz por ver um artista novo fechando negócios, etc. Mas o nosso lance é muito mais com a arte do que com o comércio feito.

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