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De Beirute a Nova York

Uma História Blogueira do Oriente Médio - Parte 2 (os mandatos francês e britânico)

no twitter @gugachacra

Por gustavochacra
Atualização:

Conforme afirmei nos posts anteriores, apenas direi o lugar onde estou na sexta-feira. Vocês entenderão os motivos. E, para não deixar o blog parado, decidi escrever a história blogueira do Oriente Médio. Nestes textos, não tenho nenhuma ambição acadêmica e tampouco didática. Na primeira parte, falei como era a vida no Império Otomano. Hoje, falarei de como ficou a situação depois da Grande Guerra, como era chamada a Primeira Guerra Mundial antes de termos a Segunda.

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Quando o império otomano naufragou, os turcos acabaram ficando apenas com a região da Anatólia. Quem estava nesta área e não era turco sofreu. Os armênios acabaram sendo, ainda durante o conflito, alvos de um genocídio, não reconhecido oficialmente pelo Brasil, Estados Unidos e Israel, apesar de Líbano, Síria e França reconhecerem.

Nos anos seguintes à fundação da Turquia, Mustafá Kemal Ataturk levou adiante a Revolução Kemalista, que ocidentalizou a Turquia. Os reflexos desta podem ser vistos na sociedade turca até hoje, como no uso do alfabeto latino.

A parte árabe do Oriente Médio foi dividida entre a França e a Grã Bretanha. Mas comecemos pelos ingleses. Eles prometeram para o Sherif de Meca que dariam a Arábia Saudita para a sua família. Obviamente, não cumpriram e o país ficou para os Saud mesmo e sua aliança com os Wahabbitas.

O resto foi dividido entre Londres e Paris. O que hoje é o Iraque, Jordânia, Israel e territórios palestinos ficou para a Grã Bretanha. Já a Síria e o Líbano, para a França.

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Mas, na época, não existiam estes países, apesar de algumas fronteiras de províncias otomanas seguirem esta linha. Por exemplo, o Monte Líbano era uma subprovíncia e não integrava a de Damasco. Mas, no fundo, como afirmei no texto anterior, a identidade era associada à religião e à cidade. As divisões foram construídas artificialmente pelos europeus. Afinal, qual a grande diferença de um morador de Homs e outro de Zahle? As cidades ao sul do rio Litani libanês tinham uma proximidade maior com Haifa. As do vale do Beqa, com Damasco. No Monte Líbano, entre cristãos maronitas e drusos, havia uma noção maior de ser "libanês". Beirute e outras metrópoles litorâneas eram cosmopolitas, voltadas para o Mediterrâneo, com armênios, cristãos ortodoxos, judeus e sunitas.

Precisando pagar a promessa não cumprida para o Sherif de Meca, a Grã Bretanha deu para um dos filhos dele as Províncias de Mosul, Bagdá e Basra, que foram unificadas com o nome de Iraque. Neste país, viveriam juntos curdos sunitas, árabes sunitas, xiitas, cristãos e judeus.

O outro filho ganhou a Jordânia. Era uma área habitada por beduínos, sem grande interesse. Esta monarquia Hashemita, na verdade, sempre esteve de olho na Síria. Mas esta antiga Província Otomana estava com os franceses.

A França, diferentemente da Grã Bretanha, quis dividir as religiões. A idéia dos franceses era criar um país para os cristãos (Líbano), um para os drusos, um para os alauítas e dois para os sunitas (Damasco e Aleppo). No fim, apenas o Líbano, de maioria cristã nos tempos da independência, emergiu como autônomo. O resto permaneceu unificado na Síria.

Israel e Palestina, do mandato britânico, ficarão para o próximo capítulo.

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O jornalista Gustavo Chacra, correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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