Foto do(a) blog

Os Hermanos

Frente Ampla consegue maioria parlamentar no Uruguai e vai confiante para o segundo turno

O ex-presidente Tabaré Vázquez, candidato presidencial da Frente Ampla, irá para o segundo turno das eleições presidenciais contra o candidato do Partido Nacional, Luis Lacalle Pou, ostentando o trunfo da maioria parlamentar para essa coalizão de centro-esquerda que reúne socialistas, democratas-cristãos, ex-guerrilheiros tuparamos e comunistas.

PUBLICIDADE

Por arielpalacios
Atualização:

Ex-presidente Tabaré Vázquez sorri durante a campanha. Seu partido conseguiu maioria na Câmara de Deputados e controlará metade do Senado. Vázquez vai confiante para o segundo turno, marcado para o dia 30 de novembro.

PUBLICIDADE

 A Corte Eleitoral confirmou que a Frente Ampla conseguiu 50 cadeiras das 99 na Câmara de Deputados. No Senado a coalizão obteve 15 das 30 cadeiras, isto é, metade dos postos na câmara alta. No entanto, poderia ter maioria na hipótese de Vázquez ser eleito, já acrescentaria um voto no Senado por intermédio de seu vice-presidente, Raúl Sendic, filho de um histórico ex-guerrilheiro. No Uruguai o vice-presidente da República é automaticamente o presidente do Senado.

Caso obtenha a presidência do Senado, esta seria a primeira vez em 60 anos que um partido uruguaio consegue três maiorias parlamentares consecutivas.

No entanto, caso Vázquez - um socialista "light" - seja eleito, terá que lidar com uma bancada frenteamplista colocada mais à esquerda, e não tão moderada como foi em seu primeiro mandato. Ex-guerrilheiros tupamaros, junto com comunistas, terão mais espaço do que os socialistas de Vázquez.

MUJICA - O presidente José Mujica, correligionário de Vázquez, afirmou ontem (terça-feira) que a conquista da maioria no Parlamento o "tranquiliza", já que o diálogo com a oposição "não foi possível" nestes dois governos da Frente Ampla. Mujica sustentou que "aqueles que ganham a eleição não são os donos do país. Segundo ele, "governar é também convencer. Temos que convencer-nos mutuamente e dar uma menos de mandões e dar mais argumentos".

Publicidade

Mujica foi o senador mais votado dentro da Frente Ampla, que apresentou vários candidatos ao Senado. Mas o senador mais votado foi Luis Lacalle Pou, que também disputava uma vaga na câmara alta. Mujica obteve 348 mil votos, enquanto que Lacalle Pou conseguiu 363 mil.

Outro candidato presidencial, que também era candidato ao Senado, Pablo Mieres, do Partido Independente (PI), também foi eleito para a câmara alta. Na segunda-feira as especulações indicavam que a Frente Ampla poderia fechar um acordo para contar com o voto de Mieres. Mas, a presidente da Frente Ampla, Monica Xavier, disse que não será feito um acordo com o PI.

SEGUNDO TURNO - O cientista político Luis Eduardo González, diretor da consultoria Cifra, afirmou que as chances de vitória de Lacalle Pou no segundo turno das eleições presidenciais "não são nulas". No entanto, González destacou que a única forma de derrotar Vázquez é que Lacalle Pou "consiga arrancar-lhe votos frenteamplistas".

Mas, os analistas da consultoria Factum consideram que, com a conquista da maioria parlamentar por parte da Frente Ampla, o segundo turno "quase perde sentido". Segundo eles, o crescimento de Lacalle Pou foi surpreendente no primeiro turno. Mas, o segundo turno seria difícil para o candidato nacional.

Alain Mizrahi, da consultoria Grupo Radar, considera que os uruguaios demonstraram um sentimento de continuidade ao votar na Frente Ampla, "que também transformou-se em um partido tradicional".

Publicidade

Vázquez obteve 47,8% dos votos, enquanto que Lacalle Pou conseguiu 30,9%. O terceiro colocado, Pedro Bordaberry, do Partido Colorado, que agora apoiará Lacalle Pou, contou com 12,9%. O Colorado e o Nacional foram os partidos tradicionais da política uruguaia, que dividiram o comando do país durante 180 anos. No entanto, a soma dos votos no primeiro turno dos dois históricos partidos não alcança o volume conseguido pela Frente.

Outros partidos da esquerda mais radical conseguiram 2,1%, enquanto que o PI obteve 3,1% dos votos.

ESCOLA - Mujica declarou que irá ao Senado apenas dois anos. Além disso, indicou que não estará presente todos os dias e que somente participará quando a Frente Ampla o necessite: "só irei quando a batata estiver muito quente". Mujica sustentou que pretende instalar uma escola rural em sua chácara, no distrito de Rincón del Cerro, na periferia de Montevidéu.

No dia 30 de novembro os uruguaios elegerão o novo presidente da República no segundo turno. No entanto, independentemente do resultado das urnas, economistas, investidores e empresários não esperam mudanças significativas nas linhas macroeconômicas na gestão governamental. "No Uruguai, independentemente do partido que esteja no governo, a marca é que podem existir nuances na orientação da política econômica...mas as linhas gerais permanecem", disse ao Estado Mercedes Comas, gerente da área econômica da consultoria Price Waterhouse em Montevidéu.

"Todos os partidos políticos estão de acordo que o déficit fiscal não é bom e que o câmbio fixo fez muito mal ao país no passado. Nos últimos anos o Uruguai aproveitou uma conjuntura externa muito favorável. Os partidos políticos entendem isso", explica. "Os depósitos no sistema financeiro continuam crescendo, o tipo de câmbio aumentou, pois o câmbio é flexível; o risco do país subiu, embora de forma moderada e os investimentos estrangeiros continuam crescendo no país", indica Comas.

Publicidade

O economista Aldo Lema, da Vixion consultores, sustenta que na contra-mão das recentes campanhas presidenciais no Brasil e no Chile, no Uruguai "não existe polarização nas visões econômicas". Ele sustenta que "uma coisa é a retórica eleitoral, e outra, governar com medidas concretas".

Os economistas uruguaios ressaltam que os governos da Frente Ampla conservaram as grandes diretrizes macroeconômicas que herdaram dos diversos governos dos colorados e dos nacionais.

Segundo Comas, 2014 será encerrado com um aumento de 3% do PIB. A previsão, para 2015, é de um crescimento de 2%. "Estes resultados devem-se à deterioração do contexto regional do Uruguai com o Brasil em recessão, a Argentina com suas complicações com os credores E, de quebra, o Uruguai enfrenta quedas dos preços internacionais dos produtos que exporta".

O desemprego no Uruguai, segundo os dados oficiais, é de 5,7%. Em 2002, em plena crise, havia alcançado os 26%. A pobreza, que há 11 anos atingia 40% dos uruguaios, atualmente é de 11%.

Os analistas em Montevidéu indicam que o "calcanhar de Aquiles" da economia local é a inflação. As estimativas da Price Waterhouse indicam uma alta inflacionária de 8,7% para 2014 e de 8,3% para 2015.

Publicidade

 

Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra). Em 2013 publicou "Os Argentinos", pela Editora Contexto, uma espécie de "manual" sobre a Argentina. Em 2014, em parceria com Guga Chacra, escreveu "Os Hermanos e Nós", livro sobre o futebol argentino e os mitos da "rivalidade" Brasil-Argentina.

No mesmo ano recebeu o Prêmio Comunique-se de melhor correspondente brasileiro de mídia impressa no exterior.

 
 

E, the last but not the least, siga @EstadaoIntero Twitter da editoria de Internacional do Estadão.

 

......................................................................................................................................................................

Comentários racistas, chauvinistas, sexistas, xenófobos ou que coloquem a sociedade de um país como superior a de outro país, não serão publicados. Tampouco serão publicados ataques pessoais aos envolvidos na preparação do blog (sequer ataques entre os leitores) nem ocuparemos espaço com observações ortográficas relativas aos comentários dos participantes. Propaganda eleitoral (ou político-partidária) e publicidade religiosa também serão eliminadas dos comentários. Não é permitido postar links de vídeos. Os comentários que não tiverem qualquer relação com o conteúdo da postagem serão eliminados. Além disso, não publicaremos palavras chulas ou expressões de baixo calão (a não ser por questões etimológicas, como background antropológico).

Publicidade

 
 
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.