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Blog do Viagem & Aventura

Etiópia: Diga 'salam' e explore os santuários subterrâneos

Por Fabio Vendrame
Atualização:
Templo esculpido na rocha - Fotos: Daniel Nunes Gonçalves  Foto: Estadão

 

LALIBELA

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Ainda que as igrejas sejam a principal atração de Lalibela, mesmo quem não se interessa por religiosidade costuma se encantar. Primeiro, porque este povoado de nome simpático está encarapitado no topo de um morro a quase 2.800 metros de altitude - e acessível por um zigue-zague de estradas cênicas. O clima é agradável, os principais hotéis oferecem vistas panorâmicas fantásticas e dá para conhecer a gastronomia nativa sem grandes problemas de higiene. Além disso, o lugar não se rendeu ao artificialismo que por vezes descaracteriza destinos turísticos e conserva a alma de uma autêntica aldeia etíope.

Como em toda cidade pequena, as pessoas se cumprimentam na rua - e não serão poucas as crianças que tentarão praticar o inglês com "hello", "how are you?" e "which country?". Responda saudando na língua deles - "Salam!" - e as portas se abrirão. A quantidade impressionante de pessoas usando camisetas do Brasil denuncia o óbvio: futebol aqui é paixão séria, e quem confessa que vem da terra de Neymar encontra anfitriões ainda mais simpáticos.

Com frequência, os meninos pedem gorjetas para comprar uma nova bola para o time. Outros mostram o boletim em busca de ajuda para novos cadernos. E há aqueles que convidam para tomar café na casa deles - o que pode ser uma experiência antropológica interessante por apenas uns trocados.

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Família em trajes típicos  Foto: Estadão

Aproveite a luz boa para fotos pela manhã, o incrível pôr do sol por trás das montanhas à tarde, mas evite o calor forte do meio do dia. Ainda que os dois agrupamentos em que se dividem as 11 igrejas estejam a menos de um quilômetro um do outro, não é preciso conhecer todas em um só dia. Cada uma tem sua peculiaridade e vale entregar-se ao ritmo manso do lugar. A mais famosa, de São Jorge, se destaca por não ter coberturas artificiais sobre seu teto em forma de cruz. As proteções contra a chuva, colocadas em 2008 e idealizadas pela Unesco, estragaram um bocado o cenário para as fotos, ainda que pelo bem da preservação arquitetônica.

Entre as igrejas do Grupo Norte, a de Bet Golgotha se destaca pelas esculturas de santos em tamanho real. Se Bet Maryam e Bet Gyiorgis, as "casas" de Maria e São Jorge, foram inteiramente cavadas no subsolo, de cima para baixo, outras como a dos anjos Gabriel e Rafael, já do outro lado do Rio Jordão, no Grupo Leste, foram esculpidas em paredes monolíticas de pedra, ganhando ares de caverna.

Experiência à la Indiana Jones  Foto: Estadão

Caminhar por túneis e fendas estreitos proporciona uma experiência à la Indiana Jones (especialmente em meio à superlotação dos rituais). E os padres e diáconos que atuam como guardiães de cada templo vão sempre parecer posar para fotos - alguns não consideram pecado receber uns birrs de gratidão.

O santuário de Yemrehane Kristos, a 42 km de Lalibela  Foto: Estadão

Instalada em uma caverna de verdade, a igreja de Yemrehane Kristos fica a 42 quilômetros de Lalibela, mas vale a visita de meio período. Mais antiga (consta que foi erguida no século 11) que as da vizinha famosa, a construção que homenageia o rei de mesmo nome exibe nos fundos uma assustadora montanha de esqueletos - dizem que de 10 mil peregrinos que ali morreram.

Chegar ao alto desse vale verdinho requer alguma paciência com os solavancos da estrada de cascalho. O caminho, porém, é responsável por boa parte da graça do passeio. Dá para observar os tukuls, típicas moradias circulares feitas em adobe e cobertas por palha, acompanhar o vai e vem de vaqueiros e pastores de cabras, testemunhar o esforço de quem caminha léguas, às vezes com lenha nas costas, para comprar ou vender produtos no mercado de Lalibela.

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Fazendo a feira. Estar na cidade na manhã de sábado, por sinal, é outro must. A grande feira semanal que congrega moradores dos povoados vizinhos mostra a vida como ela é em um típico país pobre da África. Falta dinheiro até para ter uma barraquinha de madeira. Grãos de lentilha, montes de sal e pilhas de alho são dispostos no chão, com um vendedor grudadinho no outro. Vacas e jegues são comercializados no espaço vizinho.

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Não será aí, no entanto, que você encontrará souvenirs típicos, como os potes de couro usados como marmiteiras ou as mil variações de cruzes ortodoxas - algumas copiadas com precisão das originais que estão no pequeno museu vizinho à bilheteria das igrejas. Para isso, há algumas poucas barracas no centro de Lalibela.

A cidade oferece uma meia dúzia de bons lugares para comer, seja no gramado da despojada pousada Seven Olives, nos restaurantes de hotéis bacanas como Mountain View e Panoramic View ou em casas de família como a da simpática Sisco Kase, que batizou sua humilde sala elegantemente de Unique.

À noite, quando o calendário espiritual permite, rola música ao vivo no aconchegante Torpito Bar. Mas é no Ben Abeba, no alto de um dos precipícios, que os turistas se encontram para o pôr do sol. O lugar foi idealizado pela escocesa Susan Aitchison e pelo seu sócio local, Habtamu Baye. Susan ali chegou para trabalhar como professora e se apaixonou pelo lugar. "Em Lalibela moro nas alturas, pertinho de Deus." /D.N.G.

 

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