Prezado mr. Miles: informo, indignado, que recebi notas falsas de peso argentino ao trocar meus reais em uma agência bancária de Buenos Aires. Pior que isso: o banco ignorou minha queixa, como se o desonesto fosse eu. Como escapar desse tipo de cilada?Ricardo Sacerdote, por email
Well, my friend: eu seria demasiado cruel se atribuísse apenas aos argentinos o golpe mais velho e disseminado deste mundo de tantas moedas. E, veja bem, o problema aplica-se tanto aos países onde a moeda é mais forte -- e portanto vale o esforço dos velhacos por uma cópia notável -- quanto aos países mais pobres, onde a quantidade de zeros em cada nota é tão astronômica que um viajante acaba sendo facilmente enganado. Eu mesmo, anos atrás, paguei um café em Moçambique, que custava 50 mil meticais com uma nota de 1 milhão de meticais. Meu troco, em notas miúdas, foi de 50 mil meticais -- um incalculável bolo de dinheiro que, entretanto, gerou-me um prejuízo equivalente a dezoito cafezinhos. Can you believe me? O caso por você relatado, fellow, envolve, I presume, a má fé de um caixa de banco. Não há formas de defender-se, a não ser conservar a atenção -- e mesmo essa providência não evita uma falsificação bem feita, que, por outro lado, terá grandes chances de ser passada adiante. Quando há um surto de má fé monetária acometendo determinado país (informe-se com o concierge de seu hotel), uma sábia providência é pedir uma retroca imediata. Ou seja: se o caixa ou o operador da casa de câmbio lhe deu um punhado de notas de cinqüenta, diga, sem verificar, que você prefere notas de vinte. É improvável que o golpista tenha um estoque variado de cédulas feitas em casa. Se, ainda assim, however, o golpe lhe for aplicado, volte ao estabelecimento e cumprimente o safardana. Ele realmente fez por merecer. Don't you think so?