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Bate-Bola: Tony Kanaan, o imortal das pistas

POR ALESSANDRO LUCCHETTI

Por miltonpazzi
Atualização:
 Foto: Estadão

Você viveu um momento parecido com aquele do Rubens Barrichello há dois anos. Vocês dois lutaram muito para continuar... Nós dois amamos muito o que fazemos e não temos motivos para parar. Pretendo me aposentar apenas no dia em que resolver parar, não quero ser aposentado antes.

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O que lhe passou pela cabeça durante esses meses de indefinição? Acho que nada acontece por acaso. Esse momento me levou a repensar várias coisas. Quando se ganha um certo salário, às vezes a gente cultiva um estilo de vida em que se gasta muito aqui e ali. Venho de uma família simples, meu pai tinha uma transportadora. A gente ralou muito para chegar aonde chegou. Percebi que posso fazer diferente. Também pude ver quais são os meus verdadeiros amigos. Muitos se afastaram de mim nesse momento de dificuldade. Se quiserem voltar, não vou deixar. E voltei a constatar que o Rubinho é um baita amigo meu. Ele me ofereceu até uma ajuda financeira para eu poder continuar. Eu faria o mesmo por ele.

Como foi o acerto com a equipe do Gil de Ferran, a de Ferran-Dragon? Vou deixar de receber salários até que tenhamos um orçamento de equipe competitiva. Faltam uns US$ 4 milhões (R$ 6,7 milhões). Estou ajudando o Gil na tentativa de conseguir patrocínio com os meus contatos.

Você vai ter um papel nessa missão de estruturar a equipe e tentar transformá-la numa das grandes da Indy? O Gil tem muita experiência na categoria. Pilotou na Indy mais ou menos o mesmo tanto que eu. O meu papel será o de contribuir na função de acertar os carros e auxiliar os engenheiros. Estou iniciando um desafio muito grande. É um recomeço. Somos uma equipe pequena, que por enquanto vai ter um só carro. É muito diferente da Andretti, que tinha quatro. Mas a minha sensação nos primeiros contatos com a equipe foi ótima. É uma empreitada que me empolga.

Depois de 13 anos de Indy, qual é a coisa que mais te incomoda na categoria? São os pilotos pagantes, aqueles que têm mais dinheiro e acabam tirando o lugar dos pilotos mais talentosos.

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Foi isso o que ocorreu na Andretti? Permaneceram os três pilotos com recursos? Não. O que ocorreu é que simplesmente a 7-Eleven não renovou o contrato. A Andretti achou que era hora de mudar e eu concordo. Depois de tantos anos, é natural que haja uma certa acomodação e isso não é bom. Tenho o maior carinho pelo Michael (Andretti) e por todos da equipe. Continuamos nos falando até hoje sem problema algum.

O que ainda o fascina na Indy a ponto de fazer tanta força para continuar? As coisas novas me empolgam muito. A oportunidade de poder voltar a correr no Brasil foi fantástica. Acho inclusive que a organização foi muito boa, se considerarmos o pouco prazo que tiveram para preparar tudo. A velocidade dos carros é absurda, surreal. Isso nunca deixou de me fascinar. A gente chega a correr a 400 km/h e isso me dá uma sensação indescritível. Correr em Indianápolis também é fascinante. Ainda amo muito o automobilismo. Cresci fazendo isso, era o maior amor da minha vida até nascer o meu filho Leonardo, há três anos. Agora é o segundo maior amor da minha vida, é especial.

Que cenário você imagina para a categoria em 2011? As equipes que vêm dominando, a Ganassi e a Penske, infelizmente continuarão à frente das outras. Eu espero que a gente consiga se transformar numa surpresa em uma ou outra etapa. E acredito que o (australiano) Will Power só não foi campeão no ano passado porque não tinha experiência em ovais.

Você ainda pode melhorar como piloto depois de tantos anos ou chegou a um ponto no qual não tem como evoluir? Sim, sempre podemos progredir. Eu ainda corro de kart duas vezes por semana para manter os reflexos.

Texto originalmente publicado no 'Jornal da Tarde' de 23 de janeiro 2011

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