Foto do(a) blog

Pra você que, alguma vez - ou várias - disse

Não quero que meus filhos sigam o meu exemplo

Não tenho vergonha de admitir - embora tenha vergonha pelo fato em si - mas sou uma daquelas pessoas que não se lembra em quem votou nas eleições passadas. Para não dizer que se trata de uma completa amnésia, tenho uma vaga lembrança. Tão vaga quanto a minha noção de responsabilidade política e de cidadania. Obviamente o nosso modelo político e, principalmente, os nossos atuais políticos, levam a uma descrença e desinteresse em relação ao tema. Mas atribuir a minha falta de participação no processo eleitoral aos políticos seria muito superficial, uma fuga da minha própria capacidade de atuação, que é o caminho mais fácil - geralmente o que procuramos.

PUBLICIDADE

Por Maria Dolores
Atualização:

Também não seria justo comigo mesma assumir totalmente a responsabilidade pela minha alienação. Pertenço a uma geração que não dá importância à política. Falo isso por mim, e por todo o meu círculo de convivência e pelo que vejo nas ruas, nos bares, nas andanças por esse país. E não falo aqui de militar politicamente em algum partido, de virar cabo eleitoral ou algo assim. Falo de estar conectado com o que acontece no país, com o rumo que as coisas tomam, com o que fazem o legislativo e o executivo, cujos integrantes são eleitos por nós. A minha geração tem uma distância gigantesca entre os políticos, a vida pública e os demais mortais, ou seja, nós, os cidadãos. Quantas vezes eu ouvi ou disse frases do tipo "Ih, não gosto de política", "tanto faz, são todos ladrões", "não quero saber de política", etc, etc, etc. O que eu nunca tinha pensado - e só comecei a pensar depois de abrir uma empresa e começar a pagar impostos - é que todas as decisões dos políticos, TODAS, interferem diretamente no nosso dia a dia.

PUBLICIDADE

Se o pacote de brócolis estava custando 10 reais outro dia no supermercado, se a minha compra do mês que ficava em x passou a custar 2x, isso é política, ou melhor, resultado dela, na grande maioria das vezes, com exceção de alguma intempérie da natureza, o que interfere muito pouco, perto do todo. Comecei a votar aos 16 anos. Tenho 36. Foram 20 anos de uma completa alienação, como se eu não tivesse nada a ver com isso (isso = o que fazem com o nosso dinheiro, ou o que deveriam fazer). Passados 20 anos, pela primeira vez estou sentindo que preciso fazer algo e que o meu voto vale mais do que só "ir na urna para ficar livre". Tenho um filho de 17 anos e um de 4 anos. Tornei os debates presidenciais programa obrigatório aqui em casa, com a família reunida na sala. Trouxemos a política para dentro de casa. Não para defender um candidato ou outro, mas para trazer o assunto mais perto da nossa vida, para mostrar aos nossos filhos que é muito difícil trabalhar, conquistar um dinheiro para sobreviver para, simplesmente, deixar a política para lá.

Espero que essa geração tenha uma consciência melhor do que a minha. E espero, de verdade, que meus filhos não sigam o meu exemplo até aqui.

PS: Hoje tem debate. O programa familiar para a noite já está definido! Para não ficar muito chato ou cansativo, preparamos uma tábua de frios e uns petiscos. Meu filho adolescente e minha irmã que está morando comigo adoram salaminho...

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.