Na casa dos vinte anos, jeans, tênis, uma blusa qualquer, óculos de grau, cada uma com seu cartaz na mão. Em tinta guache azul e caixa alta, ofereciam a quem passasse, de forma simples e clara: ABRAÇO GRÁTIS. Alguns passavam reto. Mas a maioria aceitava a oferta. Uma mulher indo para o trabalho. Uma mãe e o filho pequeno. Um rapaz de patins. Um casal de velhos. Não havia conversa, nem troca de palavras, nem olhares, nem segunda intenção. Só um longo, profundo e verdadeiro abraço. E cada qual continuava o seu caminho. E as meninas continuavam ali, oferecendo o que estava ao seu alcance, e ao alcance de todos, mas há muito tempo sem espaço, o abraço.
O abraço, como deve ser, virou artigo de raridade. Privilégio de poucos. Ausência de muitos. O abraço envolve o abraçado, aconchega, protege. O abraço liberta o abraçador, porque no ato de abraçar ele se expõe, se entrega. Quem abraça desnuda a alma, coloca os pés no chão sem vergonha de estar descalço e se livra das barreiras e dos medos, dos orgulhos e dos recalques, porque oferece o que há de mais íntimo e profundo: o seu corpo para acolher o outro. Receber um abraço verdadeiro é um presente. Dar um abraço verdadeiro é doação. Dar e receber. Simples e claro como a tinta guache azul no cartaz.
Mas, as pessoas não se abraçam mais. No máximo aquele abraço formal com a mãozinha no ombro, à distância segura para não constranger, não se expor, não se deixar envolver. E de uma maneira tão mecânica e inconsciente que nem nos damos conta. Basta parar e pensar: "quantas pessoas você realmente abraça"? Poucas. Ou uma, quando muito. Nenhuma, talvez. Eu queria ganhar na loteria, fazer projetos para ajudar os outros, a família e os amigos. Tinha planos grandiosos de fada madrinha. Melhorar o mundo, a vida das pessoas, fazer a minha parte. Me dei conta de que nada valerá de fato se eu não começar pelo primeiro pequeno gigante passo. Se eu não começar pelo abraço.