"Alô, alô Realengo!" O Brasil inteiro voltou a te abraçar ontem de um jeito diferente, comovido, solidário à tragédia particular que botou o bairro de novo na boca do povo. O abraço não é mais aquele, mas a intimidade sugerida na letra de Gilberto Gil permanece intacta no choro compungido de quem até hoje nada sabia a respeito de Realengo.
Eu aqui do outro lado da montanha, você aí em São Paulo, a presidente Dilma em Brasília, todo mundo esteve em pensamento nessas últimas 24 horas em Realengo, tentando entender a estupidez que incluiu o Brasil na rota dos massacres em escolas mundo afora.
O lugar que o País inteiro abraçou sem saber direito o que abraçava na cadência bonita do samba tem agora cara, sentimentos, angústia, desespero, dor, tristeza e medo documentados em suas ruas pelos telejornais do planeta. Todo brasileiro conhece um lugar esteticamente parecido em sua cidade, mas nenhum outro subúrbio conhece drama com a dimensão da tragédia da Escola Municipal Tasso da Silveira.
No lugar de "Aquele Abraço", Realengo me traz agora à cabeça o choro-canção 'Subúrbio', de Chico Buarque:
"Lá não tem claro-escuro A luz é dura A chapa é quente Que futuro tem Aquela gente toda Perdido em ti Eu ando em roda É pau, é pedra É fim de linha É lenha, é fogo, é foda Fala Realengo..."