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P2P e cultura digital livre

Gostou de um artista? Financie-o diretamente

Por que as pessoas baixam música ilegalmente? Vários estudos arriscam as respostas: por causa do comodismo, da dificuldade em encontrar o conteúdo por meios legais, por causa de atrasos na data do lançamento. Enquanto for mais fácil ter acesso a um conteúdo pirata, as pessoas optarão pelo caminho ilícito - só porque é mais cômodo.

Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

É por isso que serviços de streaming como o Pandora, o Spotify e o Netflix deram tão certo. Com um sistema de assinaturas (o Spotify também tem plano gratuito), o usuário tem acesso a um acervo enorme de conteúdo disponível a poucos cliques. Quando o preço não assusta e o serviço é funcional, as pessoas pagam - e os artistas recebem. Os serviços têm acordos com as gravadoras e com as respectivas entidades de direitos autorais, que coletam os royalities e os distribuem aos músicos.

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Mas o dinheiro pode não chegar às mãos do artistas. Ele é redistribuído por um intermediário - no caso de música no Brasil, quem faz isso é o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), que adota o critério de amostragem para pagar os artistas. O YouTube, por exemplo, tem um acordo com o Ecad para pagar pelos direitos autorais dos vídeos. Quando você ouve uma música no site, o dinheiro relativo àquela execução não vai direto ao artista - mas, sim, ao total pago ao Ecad, que distribuirá a verba para os artistas mais tocados. Quem toca mais recebe mais (em 2011, quem mais recebeu direitos autorais no YouTube brasileiro foi Justin Bieber). Os novos artistas e independentes, que precisam ser financiados pelo público, acabam recebendo muito pouco - ou, na maioria das vezes, nada.

Alguns modelos, porém, combatem essa distribuição injusta. O site de streaming Grooveshark, que vive comprando brigas com a indústria fonográfica (e foi banido do Android Market e da App Store por ser pirata), firmou uma parceria com o serviço de micropagamentos Flattr. Criado por Peter Sunde, fundador do Pirate Bay, o Flattr permite que o usuário doe pequenas quantias diretamente ao artista. O usuário cria uma conta e coloca dinheiro ali. Então, quando se deparar com o botão do Flattr em um site, basta clicar para doar uma quantia. O botão é parecido com o like do Facebook, mas vale dinheiro. No Grooveshark, cada página de artista ganhou um botão do tipo.

Essa não é a única maneira de financiamento direto. O serviço de streaming Rdio, criado pelo fundador do Kazaa e do Skype, Janus Friis, lançou um mecanismo de pagamento que dá aos artistas US$ 10 para cada novo assinante que eles atraírem. Assim, cabe ao artista mobilizar seus fãs para usarem o serviço. "Nós sabemos que um negócio que não recompensa seus contribuidores mais importantes precisa mudar. A inovação da internet não pode ser uma barreira para o sucesso dos artistas musicais", disse Friis. A assinatura do serviço, que no Brasil se chama Oi Rdio, custa a partir de R$ 9 e dá acesso a um acervo de 18 milhões de faixas, em diferentes plataformas, de maneira simples e rápida. No Brasil, o sistema de remuneração já é usado por Seu Jorge, Leoni, Qinho e Barbara Eugênia.

E ainda há o crowdfunding, que viabiliza a gravação de discos e shows por meio da doação do público. A plataforma Queremos, por exemplo, vende pequenas cotas de patrocínio para o público. O total é usado para levar ao Rio de Janeiro artistas estrangeiros que vêm ao Brasil, mas que não têm data marcada na cidade - artistas que, se dependessem das casas de show cariocas, talvez nunca se apresentariam por lá. O Queremos já viabilizou shows como Primal Scream e Mayer Hawthorne, entre outros, com a doação dos fãs.

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Os modelos romperam os moldes tradicionais de público-gravadoras-artistas. É a lógica da internet e do P2P adaptada ao mundo real: a troca entre pares, sem a necessidade de intermediários, em que todos têm acesso à tudo. Neste caso, além do público ter acesso, ele também pode mostrar o seu apoio pagando diretamente aos artistas - sem correr o risco de o dinheiro ser abocanhado no meio do sistema, ou pior, de chegar nas mãos do Justin Bieber.

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