Foto do(a) blog

Deambulações

Casa Rodante, Braços Abertos, Luz

PUBLICIDADE

Por tataamaral
Atualização:

Sábado fui conhecer a Casa Rodante, um projeto piloto de intervenção na Luz e Campos Elíseos, a partir do Projeto De Braços Abertos. Trata-se de uma casa-carro projetada por artistas da Casadalapa e convidados para atuarem nas ruas do bairro da Luz. Durante seis dias da semana, o grupo circula pelas ruas do bairro, estaciona em determinados lugares, instala mesas e desenvolve atividades as mais variadas com moradores (jovens, adultos, idosos, usuários de craque).   Participam da Casa Rodante, os artistas da Casadalapa Julio Dojcsar, Pedro Guimarães, SatoDoBrasil, Paulestinos (Átila Fragozo e Renoir Santos) que, aliás, me ciceronearam gentilmente. O trabalho do Paulestinos se constrói principalmente através da linguagem do lambe (o chamado lambe-lambe) e mistura paulista com nordestino, guerreiras e guerreiros ninja com cangaço, cinema com grafismo. Além dos lambes, o Paulestinos trabalha com intervenções que evocam a pixação, em geral sobre os próprios lambes e na cor laranja. É bem comum atuarem em parceria com Laura Guimarães que faz os microrroteirosdacidade, lambes coloridos com pequenas narrativas de no máximo 140 caracteres. O resultado imaterial do trabalho da Casa Rodante é visível: a criançada toma conta, os adultos chegam, sentam-se, trocam, conversam, sofrem, desabafam, causam. A rua é cheia de vida e troca. Abaixo, os artistas Pedro Guimarães, Cauê do Coletivo Transverso e o agricultor urbano Marcos Contador que preparam, neste último sábado, o trabalho na mesa da Casa Rodante. O resultado visível e material acontece nas calçadas, paredes e muros da ruas da Luz: painéis incrivelmente lindos misturam as linguagens do grafite, lambes e estêncil. Esta mistura é promovida pelo trabalho coletivo de vários artistas. Numa outra ocasião, Laura Guimarães (mocrorroteirodacidade) me contou que Átila a incentiva a "atropelar" o trabalho do Paulestinos, o que consiste em colar por cima, criando um resultado estético super interessante. Acho que posso dizer que o "atropelar" do Átila é uma proposta de diálogo entre os trabalhos. Campos Elíseos e Luz, como disse Átila, tem ares de cidade do interior. Moradores, comerciantes, policiais e usuários de craque convivem nas ruas com o pessoal da Casa Rodante. O bairro é também um lugar para se conhecer e observar a arquitetura paulistana de um século atrás. Tomara que seja preservada, aliás! É talvez o único bairro de São Paulo capaz de contar esta história. Na foto, Renoir e Átila pintam a Floreira, outra ação da Casa Rodante que consiste em plantar temperos e flores para os passantes. Os artistas da Casa Rodante costumam convidar parceiros para as ações como Cauê do Coletivo Transverso que fez seus estêncils na Floreira, ao lado do lambe do Paulestinos: Abaixo, entrevista gravada com Julio Dojcsas, Átila Fragozo comentando o trabalho da Casa Rodante e do Ozi, artista que atua nas ruas desde os anos 80 e que foi visita-los neste sábado. Julio Dojcsas Átila Fragozo Ozi Stncili A Casa Rodante ficará na Luz e Campos Elíseos até março de 2015. É uma parceria entre os artistas e a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, através da Coordenação de Direito à Cidade. Tomara que, após este período, continuem por lá. No que depender dos artistas, ficam. Estão completamente envolvidos com o trabalho e o resultado é mesmo incrível. Como todos sabem, o projeto De Braços Abertos visa humanizar as relações do poder público e da cidade para com os usuários de crack, concentrados na região da Luz, oferecendo-lhes tratamento, moradia e trabalho. A idéia básica deste projeto é resgatar a dignidade das pessoas que viviam nos dantescos 147 barracos montados nas ruas Helvécia e Dino Bueno. Recentemente, a Prefeitura de São Paulo comemorou o fato de que vários usuários passaram a ter carteira assinada e estão trabalhando em órgãos da mesma.          

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.