EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Ensaio de orquestra

PUBLICIDADE

Por Sonia Racy
Atualização:

 Foto: Fabio Motta/Estadão

Titular da Orquestra Petrobrás e da Sinfônica de Heliópolis, Isaac Karabtchevsky é também consultor de programação do Municipal do Rio e vem gravando as onze sinfonias de Villa-Lobos. Haja fôlego. Aos 79 anos, ainda encontrou tempo para ministrar curso de regência, esta semana, no Instituto Baccarelli, em SP - parte do Festival Mimo, cujo concerto de encerramento acontece dia 7. O maestro falou com a coluna, por telefone, sobre a agenda atribulada, o custo da cultura no Brasil e a falta que o ensino de música faz nas escolas.

PUBLICIDADE

O que significa um curso como este que o senhor está ministrando no Festival Mimo?

Ele foi criado para responder a uma questão vital para todo jovem regente: como treinar. Porque, se você estuda um instrumento, basta ter esse instrumento em casa para praticar. O regente, não. Ele não tem 50 músicos à disposição ou uma orquestra de câmara. O ponto do curso é ajudar esse aluno a superar esse obstáculo e continuar a se desenvolver.

Acha que o Brasil vem formando bons maestros?

O cenário hoje é melhor, até porque o número de orquestras aumentou. Hoje, o jovem não se sente desprovido de opções. Há uma preocupação de todos os estados em prover o panorama de sua região com uma sinfônica. Isso é importantíssimo.

Publicidade

Como criar novas orquestras no País com o mesmo nível da Osesp, por exemplo?

A Osesp é um caso único, porque foi precedida pelo impulso de um partido político, que continua no poder em São Paulo até hoje. Ela tem a constância de um movimento político que começou com Mario Covas. Sei que é atípico, mas deveria ser exemplo para todas as outras orquestras do País.

É preciso que haja investimento estatal?

Ah, sim. Claro que estados com as mesmas características de São Paulo são coisa muito rara. Mas orquestras servem como cartão de visita de uma cidade ou de um estado. A combinação ideal é que haja um mix entre estatal e privado.

É caro fazer música no País?

Publicidade

Veja: uma orquestra precisa de verba para manter pelo menos 60 músicos. Não é todo estado que tem esse orçamento. Não existe mágica: cultura custa dinheiro.

O senhor acha que o estado deveria voltar a ensinar música nas escolas?

Seria fundamental. Quando criança, eu fazia parte de um coro no Liceu Pasteur. Era uma coisa viva no currículo escolar. Transmitia, mesmo que de forma subliminar, os conceitos de disciplina, respeito mútuo, organização. Durante a ditadura, a música foi drasticamente eliminada, o que eu considero uma agressão. Era um celeiro de músicos.

A música é civilizadora.

Sem dúvida. Porque ela transmite todos esses preceitos que a gente aplica no decorrer da nossa vida. Quem tem a música, tem um instrumento a mais para se aprimorar como ser humano.

Publicidade

O senhor vem passando parte de seu tempo também em estúdio, maestro?

Estou gravando, com a Osesp, todas as sinfonias de Villa-Lobos. Devemos terminar em 2017. Das onze peças, já completamos seis. É um trabalho de fôlego, literalmente./DANIEL JAPIASSU

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.