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Reflexões sobre histórias e clichês femininos

Da série pequenos prazeres

A lista de miudezas (ainda bem) não tem limite ou regras, não precisa ser pequena e, o melhor, podemos acumular os pequenos prazeres dos outros. Coisas que descobrimos em conversas, trocas, bobagens que acabam deixando a vida mais leve.

Por Marilia Neustein
Atualização:

É inesquecível o momento da vida em que você descobre a sua Amélie Poulain. Digo, aquela habilidade que, por vezes, fica apagada -mas jamais esquecida - de desfrutar de pequenos prazeres. Nossa personagem francesinha tinha uma listinha de coisas bobas, nada significativas, mas que a enchiam de uma felicidade inexplicável, de um "bliss", de alguma coisa que, só de ser o que é, já basta. Para ela, 'enterrar' as mãos em um saco de grãos, quebrar a casquinha do crème brûlée com uma colher ou atirar pedras no canal de Saint-Martin já eram o suficiente para esquecer dos problemas. Fazer o exercício de prestar atenção a essas pequenas coisas acaba ajudando muito a sobreviver nesse mundão cheio de exigências e parafernálias sociais.

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A lista de miudezas (ainda bem) não tem limite ou regras, não precisa ser pequena e, o melhor, podemos acumular os pequenos prazeres dos outros. Coisas que descobrimos em conversas, trocas, bobagens que acabam deixando a vida mais leve. Tenho uma amiga, por exemplo, que me revelou que uma das coisas que mais adora é roubar uma garfada do prato do marido. Por mais que a comida que ela tenha escolhido seja a certa e ela esteja satisfeita, aquela garfadinha com um olhar de 'posso?' é um dos pequenos prazeres dela. Outra conhecida me disse, dia desses, com ares de confissão, que poucas coisas a preenchem tanto quanto dirigir sozinha na estrada com uma música bem brega no talo. Ela ama poder cantar tranquilamente, se sente a própria Aretha Franklin - sem ser censurada por ninguém. E, por fim, um amigo atentou para a enorme satisfação que sente aotirar os sapatos depois de um dia duro de trabalho. Trata-se daquele momento em que você sente seu pé dizer: "Pode relaxar, você está em casa", o que é praticamente algo sagrado. Desde então, valorizo esse ritual. Imagina só: o dia inteiro perambulando para cima e para baixo. De salto ou sem salto, nossos pés aguentam a pressa, o stress, os sustos do trânsito, o desaforo cotidiano. E, ao chegar ao lar, eles podem se deliciar com um banho quentinho ou uma bela pantufa de puro conforto.

Começar a reparar nessas pequenas coisas é uma delícia. O cheirinho de cebola refogada, por exemplo. Podem me contrariar, mas é um dos melhores aromas do mundo. Nem chocolate quente, nem churrasco, nem franguinho de padaria. O top do ranking de produção de água na boca é a cebola refogada. Você pode ter acabado de voltar de um superjantar, mas, se seu vizinho jogar a cebola para cintilar, na hora, a vontade é de tocar a campainha e pedir mais um lugar à mesa. E por aí a lista de pequenos prazeres segue...

Sabemos, o dia a dia é duro, os problemas são de todas as ordens: práticas, mentais e vocacionais. Mas, ainda assim, calçar um par de pantufas e sentir o aroma de uma cebolinha refogando podem nos salvar de muitos pensamentos ruins.

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