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Fisiologia esportiva para você entender

Maior técnico de atletismo do mundo fala sobre o esporte no Brasil e as Olimpíadas

LONDRES -- O norte-americano Dan Pfaff dirige, atualmente, o mais importante centro de treinamento de atletismo do Reino Unido. Foi técnico do ex-recordista mundial e ex-campeão olímpico dos 100 metros rasos, o Canadense Donovan Bailey. Por suas mãos já passaram quatro recordistas mundiais e mais de quarenta atletas olímpicos. Muitos destes, além de outros atletas por ele treinados, disputaram campeonatos mundiais (mais de cinquenta). Veja aqui a entrevista que me foi concedida esta semana com exclusividade:

Por Ricardo Guerra
Atualização:

Donovan Bailey, à esquerda com Dan Pfaff

 

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RICARDO GUERRA: Você acha que o Brasil está preparado para sediar os Jogos Olímpicos de 2016? 

DAN PFAFF: Sempre houve uma tentativa dos países do hemisfério norte em promover e passar a idéia de que países em desenvolvimento não têm a capacidade de sediar esses eventos. É uma mentalidade e atitude colonialista e que vai contra o verdadeiro espírito olímpico. O Brasil é uma das maiores economias do mundo, além de aumentar sua influência política progressivamente no contexto das nações. Tenho ouvido falar muitas coisas boas sobre a presidente Dilma Rousseff e seus objetivos. Eu sinceramente acredito que o Brasil vai conseguir unir as forças necessárias para poder promover esse evento com sucesso.

RICARDO GUERRA: Em que situação se encontra hoje o atletismo brasileiro?

DAN PFAFF: Eu acredito que é um momento muito interessante e eletrizante para todo o país. O Brasil vem construindo uma tradição significativa na história do atletismo mundial, através de momentos marcantes nas principais competições deste esporte. Como poderia alguém esquecer a conquista da medalha de ouro de Joaquim Cruz na Olimpíada de Los Angeles em 1984 ou da quebra do recorde mundial do João Carlos de Oliveira (João do Pulo) no Pan Americano da Cidade do México em 1975? Atualmente, existem alguns atletas em diferentes modalidades que potencialmente podem ganhar medalha na próxima Olimpíada. Muitos desses novos atletas poderão também participar nas Olimpíadas de 2016. O país tem também técnicos de renome no atletismo como Luiz de Oliveira, Elson Miranda de Souza e Nélio Moura.

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RICARDO GUERRA: Quais os pontos fortes e fracos do atletismo brasileiro?

DAN PFAFF: O Brasil tem uma vasta população heterogênea, diversificada que poderia ser garimpada e transformada numa geração de atletas de alto nível nas diversas provas do esporte. Na verdade, o país é um celeiro de talentos olímpicos ainda não descobertos. É uma pena que pouco tenha sido feito para achar e desenvolver esses talentos. É realmente lamentável. Uma das razões para isso estar acontecendo é a falta de centros de treinamento de alto nível e de um sistema de apoio necessário para o desenvolvimento de atletas no Brasil. Muitos deles treinam fora do país. Além disso, muitos desses centros de treinamento se encontram em lugares distantes da periferia, dificultando o acesso dessa população. O país também não tem um projeto eficiente nas categorias de base, que seja empenhado no desenvolvimento do esporte nas camadas mais desfavorecidas. As autoridades que comandam o esporte têm que investir mais na formação dos técnicos de atletismo dentro do país, com o objetivo de melhorar as diversas metodologias de treinamento que são utilizadas. Os desafios financeiros para tudo isso poder ser feito são enormes. Tem que haver um entendimento harmonioso entre o setor privado e as forças do governo federal para que os objetivos traçados possam ser alcançados.

RICARDO GUERRA: Que tipo de apoio um atleta de nível internacional necessita para ser bem sucedido?

DAN PFAFF: Um atleta precisa de um técnico competente, com conhecimento profundo das ciências do esporte e que não tenha medo de unir a sua experiencia com a dos fisiologistas do exercício, dos psicólogos do esporte, dos médicos, dos fisioterapeutas e de outros profissionais da medicina esportiva, em prol do desenvolvimento do seu atleta. Boas condições climáticas unidas a excelentes instalações de treinamento também fazem uma enorme diferença. Por fim, acho que um atleta precisa de um grande apoio familiar e de amigos próximos, com o intuito de mantê-lo centrado nos seus objetivos.

RICARDO GUERRA: Na sua opinião, que modalidade faz a integração dos conhecimentos da área da ciência do esporte com mais eficiência?

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DAN PFAFF: Eu acho que modalidades onde os resultados são medidos em centésimos de unidades fazem uso da ciência do desporto com mais frequência. Eu diria que o atletismo e a natação são os dois esportes que estão na vanguarda desta prática. Medalhas são obtidas com resultados que diferem, na maioria das vezes, em frações de segundo. Portanto, qualquer vantagem, por menor que seja, pode fazer uma grande diferença. Outros esportes, como o ciclismo, o futebol americano, o levantamento de peso e o remo são conhecidos por assimilarem os conhecimentos dessa área com grande eficiência também. Ser tecnico é arte e ciência ao mesmo tempo. Aqueles que não conseguem entender esse conceito básico vão pagar um alto preço.

RICARDO GUERRA: Atualmente, como você vê as chances do Reino Unido nas próximas Olimpíadas?

DAN PFAFF: Todo o país se encontra muito entusiasmado. O nível de instrução dos diversos técnicos envolvidos na nossa organização é muito elevado. Temos muitos recursos financeiros para poder alcançar os nossos objetivos. O país fez muito nos últimos quatro anos para traçar novas metas e mudar a cultura do atletismo.

RICARDO GUERRA: Quais foram os seus maiores feitos dentro de sua carreira como técnico?

DAN PFAFF: Minha carreira tem sido bem longa e tenho muitas recordações especiais de tudo o que passei. Sou abençoado por todas as experiências que tive, pelos amigos que tenho, pelos atletas com quem tive a oportunidade de trabalhar e por todos os contatos que fiz através do atletismo. Não acho que o ponto mais alto de minha carreira tenha sido quando um atleta meu ganhou uma medalha olímpica ou quando quebrou um recorde mundial. Muitos dos atletas e técnicos com quem trabalhei até hoje, já conseguiram alcançar feitos muitos maiores do que os meus. Quando recebo um cartão de natal de um desses amigos me contando sobre seus sucessos, aí sim recebo o maior presente de todos.

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