Lembro que, antes disso, quando não sabia muita coisa sobre "fetiche sexual" - "fetiche" era o nome de uma loja, e "sexual", algo que fazia meu pai falar sobre bebês e cegonhas - bigodes tinham um outro significado. Tinham mais a ver com o meu medo de ficar parecido com meu avô, não porque ele fosse feio - dizem até por aí que as minas piravam no mustache do Antonio: meio grisalho, nem farto, mas nem tão ralo. Acontece que tinha calafrios só de pensar em mim, um dia, dissecando jornais, falando difícil e descendo a lenha no governo por causa de uns tais de IPVA, IR, IPTU...
Até achava legal ostentar uma pelugem supralabial só pra posar de galã: parar no balcão do bar e ficar roçando o bigode, ou a barbixinha, ou o fiapo de pelos faciais que fossem dá um tchan no sex appeal de qualquer pangaré. De repente, o Clóvis, que nem era tão bonito assim, ficou rodeado por uma sorte de mulheres só porque ele resolveu ficar parecido com o Fred Mercury - numa versão Big Bang Theory, é verdade, se permite, leitor, a avaliação meramente científica e sincera deste imberbe que vos escreve.
É batata: na hora do vamuvê, barbados e caras peladas lado a lado, a gente que põe a mão no bolso, assobia, ou capricha no perfume no cangote não é páreo a todo o charme troglodita que emana de um homem brigado com a gi. Experiência própria.
O tempo passou, o medo de ficar igual ao Antonio durou, e a barba... A barba nem veio. O que os hormônios deveriam transformar em pelos deve ter irrigado a parte do meu cérebro responsável pelas besteiras que falo.
Mas papo sério?
O pior é que hoje disseco jornais. Volta e meia desço a lenha no governo por causa do IPVA, do IR, do IPTU. E quando vou tentar aproveitar a parte boa da história de ter um bigodinho - 'inho' porque é o que consigo cultivar a duras custas - sou repreendido pela minha irmã:
"Tira essa merda da cara!" - desfazendo-se da minha meia dúzia de pelinhos que nascem, esparsos, embaixo do nariz e do queixo.
Mas, mana, eu só queria posar de galã! Posso?