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Crônicas do cotidiano

Maioridade penal

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Por Ricardo Chapola
Atualização:

Ilustração: Felipe Blanco

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É natural: a gente cresce, o corpo muda. Pinto vira galo, pombinha se transforma em aranha e em função dessas e de otras coisitas más nós, homens, uma hora deixamos de ficar pelados perto das primas. Eu, particularmente, fui além: quando isso aconteceu, destituí minha mãe da função de compradora oficial de cuecas e assumi o cargo. Afinal de contas, uma hora o pinto sai do ovo. Foi assim que adentrei, senhoras e senhores, na maioridade penal.

Cresci meus últimos 10 centímetros quando pisei, pela primeira vez, numa loja de cuecas sozinho. Não me sentia totalmente preparado, é verdade, mas pra nada na vida a gente está, né? Então com mais cara que coragem, meia soquete e a voz escorregando no limbo da adolescência, estufei o peito e enfrentei o gigante Adamastor.

Quem quer passar além da avenida da juventude tem que passar além dos tabus, a dor de deixar pra trás as regalias infantis.

Ser café com leite nas relações políticas, nunca mais. Comida no bico, mesada e vídeo-game à tarde toda só na outra encarnação se fosse. Agora que você pulou do ninho, tem aí um mundão pra descobrir mais uma plantação de abacaxis pra descascar. A começar por esse: comprar o cobertor de suas próprias vergonhas.

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Era a primeira vez que eu falava sobre intimidades assim, olho no olho, com uma mulher. Belíssima, por sinal. Mariana, lembro bem (como esquecer?). Balbuciei muito, quase revelando que uns dias antes de estar ali, na prova da maturidade, vestia só cueca com a carinha brava do Bad Boy.

Ah, Mari, e você tão gentil... Fingiu que apesar do bermudão azul e o boné vermelho virado pra trás, negociava cuecas adultas com uma criatura debruçada sobre elas na busca pelo seu eu maduro. Cadê, cadê? - perguntava meu coração. Mas os meus olhos não perguntavam nada, porque procuravam alucinadamente entre cuecas listradas, azuis, vermelhas, brancas, uma de cada tamanho, pistas da famigerada carinha carrancuda. E nada.

Tristeza...

O pior de virar adulto eu descobri só depois. Comprar o tapa-sexo é fichinha. Dureza é aturar a retaliação da mãe que, exonerada de seu posto, lavou as mãos mas não lavarás mais suas cuecas, camarada! É como dizem por aí: uma vez nos quintais da maioridade penal, você, cabra, responde por todos os seus atos. E eu disse todos. Taí sua cueca, campeão.

 

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