Foto do(a) blog

Crônicas do cotidiano

@cartas.com

PUBLICIDADE

Por Ricardo Chapola
Atualização:

Ilustração: Felipe Blanco

PUBLICIDADE

Vai soar um pouco old school o que vou falar aqui, mas, ah, dane-se: que saudade das cartas...

Na época que estava na moda o correio elegante, lembro que o mundo era mais gostoso, tinha mais approach. Eu, particularmente, era mais feliz com isso. Achava o máximo a liturgia: a escolha do papel, do envelope sem orelhas, escrever redondinho se o destino inspirasse caprichos, e se não, era jogar todos os preciosismos pra cima e ir direto ao ponto contar pro seu primo que, não, não rolou nada com a Fabi na festa do Guto.

Depois foram cortando o meu barato em método chinês de tortura, a conta-gotas. Primeiro reduziram meus prazeres para uma espécie de Twitter retrô, o telegrama. Aí cortaram de vez todo o papel e mandaram pra conchinchina esse contorcionismo textual todo de enfiar Os Lusíadas num post-it. E por fim inventaram esse negócio de correio sem carteiro: senhoras e senhores, o e-mail! Me perdoem, sem a exclamação.

Eu, particularmente, não vejo um pingo de graça nos e-mails. Escrevo vários por dia, mais até do que escrevia cartas, devo confessar. Eles são mais rápidos, é verdade, mais práticos. Pra falar da Fabi com o primo, a mensagem sai em disparada, ricocheteando pelo caminho dos bits amarelos do seu computador até o dele. Sem os frufrus do papel, do envelope orelhudo, sem a menor preocupação com o garrancho que está sua letra naquela hora. Sem o frio na barriga gostoso das cartas. Não vai ter demora, porque o carteiro não vai topar com nenhum cachorro. Não tem carteiro. Não tem cachorros-ciborgues pelas estradas informáticas. Não tem a menor graça então, poxa, me perdoem.

Publicidade

É anacrônico isso tudo, eu sei, mas e a nostalgia, como fica? Como ficam as cartas de amor, ridículas, que não seriam a esse ponto ridículas se não fossem cartas? E-mails de amor? Eu, particularmente, não sei.

Não sei se há espaço pro amor no infinito das nossas caixas de entrada. Ali ele se apequena, vai minguando, minguando, minguando, e quando a gente vê, lá está o amor, tacanho, entre a tentadora oferta do Groupon e os slides da próxima aula do mestrado.

Que os amores se agigantem perdidos pelos calhamaços da vida, misturados com quinquilharias, tickets refeição, e, puts, a conta de luz que esqueci de pagar empaçocados na gaveta. Isso, nas gavetas: cercadinhos guardiões de tantas alegrias escritas em linhas tortas, tristezas escritas em linhas direitas.

O rodeio todo porque recebi um e-mail, há umas duas semanas, com um gostinho de carta que vou te falar. Era da Susi. E, Susi, responderia à moda antiga se pudesse. Mas o tempo é curto, são 23h e a papelaria está fechada pra comprar papel e envelope.

Vai por e-mail mesmo:

Publicidade

"Susi, valeu! Bjs"

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.