A migração fará parte da história da mesma maneira que trepar nas árvores fez, tempo bom em que a nossa maior preocupação era decidir quem sentaria no galho mais alto - eleição que envolvia idade, quem tinha o Romário no bolo de repetidas e também se o cara fosse bom de bola ou não. Pernas de pau, nem pensar. Nessa época, nossos pais poupavam a gente da forte hipótese de que um dia o destino nos pegaria pelo colarinho e nos levaria para talvez subir em outros galhos. Mas não de árvores. Em São Paulo, as pessoas não trepam em árvores. Derrubam para construir prédios.
No fundo, no fundo, entendo: também livraria meus filhinhos de outra decepção da vida. Eles crescem e, cedo ou tarde - na minha opinião muito mais cedo do que tarde -, se certificam da morte, a precoce notícia que, pela precocidade, vai derrubando as mangueiras, as goiabeiras e os abacateiros que as nossas crianças subiriam, mas não vão poder.
Não bastasse a morte, São Paulo.
A gente acaba se conformando. Os papos mudam, os galhos ficam fracos e a gente acaba indo mesmo pra cidade grande, de enxadas nos ombros, assobiando a música do Rei do Gado para espantar o mau agouro de ter trocado o céu pelo inferno. A essa altura do campeonato, predestinado desde o ventre sertanejo de minha mãe, só me resta puxar a oração dos Capiaus: proteja-me em São Paulo, mas, por Deus, livrai-me do primo chato. Amém!