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Censura sem fronteiras

O cancelamento da estreia do filme 'A entrevista' mostra que a internet pode amplificar a censura?

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Por Renato Cruz
Atualização:
 Foto: Estadão

A expansão da internet enfraqueceu fronteiras. As pessoas podem acessar informações, participar de conversas e até comprar coisas que antes não estavam disponíveis nos locais onde moram. Na semana passada, vimos um efeito negativo dessa desterritorialização. A Sony Pictures cancelou o lançamento do filme A entrevista, depois de sofrer um ataque de hackers, que, segundo a polícia federal norte-americana, trabalharam a mando do governo da Coreia do Norte.

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Dirigido por Seth Rogen e Evan Goldberg, o filme conta a história de dois jornalistas recrutados pelo serviço secreto dos Estados Unidos para matar o líder norte-coreano Kim Jong-un. Os hackers que roubaram informações da Sony ameaçaram atacar salas de cinema e espectadores se o longa-metragem fosse lançado.

Em entrevista no programa de Stephen Colbert, dias antes do cancelamento da estreia, o humorista Seth Rogen admitiu saber que a temática do filme não deixaria os norte-coreanos muito felizes. "Pessoalmente, considero apropriado fazer piadas sobre coisas reais", disse Rogen.

Alguém pode questionar o bom gosto de se fazer piada sobre um assassinato, ou até se o filme é realmente engraçado. (Um crítico que assistiu à comédia, escreveu: "A entrevista não vale o preço que a Sony está pagando por ela".) O grande problema dessa história, no entanto, é a capacidade de a Coreia do Norte ter o poder de decidir o que pessoas no mundo todo podem ver ou não.

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Não é de agora que o cinema aborda esse tipo de assunto. Um filme britânico de 2006, A morte de George W. Bush, era um falso documentário que se passava no futuro, e tratava da investigação sobre o assassinato do então presidente norte-americano. No filme, Bush teria sido vítima de um atirador em Chicago em 19 de outubro de 2007. Apesar ser alvo de críticas de políticos, o filme recebeu seis prêmios.

Dois anos antes, o escritor norte-americano Nicholson Baker publicou o livro Checkpoint (algo como "posto de inspeção"), em que duas pessoas discutem planos para matar George W. Bush.

Na edição mais recente do Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, da organização Repórteres sem Fronteiras, a Coreia do Norte aparece em penúltimo lugar numa lista de 180 países, à frente somente da Eritreia (o Brasil está em 111º). Os EUA caíram 13 posições para o 46º, principalmente por causa de sua perseguição a informantes, com a condenação de Chelsea Manning e a tentativa de prender Edward Snowden.

As próprias denúncias de Snowden mostraram como a internet é hoje um campo importante para a espionagem e até para ataques entre países. Muitas vezes apontada como instrumento de liberdade e democracia, a rede mundial corre o risco de se tornar ferramenta de propagação da censura.

Buraco negro

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A Coreia do Norte é apontada como um dos países onde a "liberdade de informação é inexistente", segundo a entidade Repórteres Sem Fronteira: "Apesar de turbulências ocasionais no ano passado, esses países continuam a ser buracos negros de notícias e informações e um verdadeiro inferno para os jornalistas que moram por lá".

Soft power

Joseph Straubhaar, professor de Comunicação da Universidade do Texas em Austin, viveu no Brasil. Ele escreveu em sua página do Facebook: "Os americanos tendem a pensar em filmes de Hollywood como simples entretenimento, mas o resto do mundo os vê como expressões do poder dos EUA, com grandes consequências. Muitas pessoas, incluindo eu, estão olhando para vários países ao redor do mundo para ver o quanto da exportação de suas culturas dá a eles 'soft power'". Para Straubhaar, era previsível uma reação norte-coreana.

No Estado de hoje ("Censura sem fronteiras", p. B14).

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