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Opinião|Mais que apenas descanso, uma pausa produtiva

Leandro Costa

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Atualização:

Descansar o corpo e a mente. Recarregar as energias para enfrentar, de forma saudável, outra jornada de trabalho. Essa é a principal definição da função das férias no senso comum. Entretanto, muitos defendem que esse período pode servir também para outras finalidades, como assimilar novos conhecimentos e refletir, sob outros pontos de vista, a respeito dos desafios e posturas profissionais.

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Segundo os especialistas, fora da "vida real", ou seja, livre das pressões e obrigações do dia a dia, o profissional tem a possibilidade de analisar as grandes questões que o afligem sob outras óticas, e ainda pode adquirir outros tipos de experiências se conectando com o ambiente que escolheu para descansar. "Durante as férias você se abre para perspectivas que não enxerga no dia a dia. Muitos insights que não surgem quando se está no trabalho podem vir à tona quando você se distancia daquela realidade e vive outras experiências", afirma a diretora técnica da Homero Reis e Consultores, Thirza Sifuentes.

O mesmo defende a sócia da LFGhisi consultores, Luiza Ghisi, para quem o que se vivencia durante as férias pode, sim, de algum modo ser transferido para a rotina profissional após a volta. "As pessoas já fazem isso na verdade, mas inconscientemente. As vivências que elas tiveram no período de férias de alguma maneira influenciam seus movimentos posteriormente. Entretanto, pode haver um direcionamento para que haja melhor proveito dessas experiências."

A especialista explica, no entanto, que tornar essa prática consciente não significa ficar pensando no trabalho durante o período de férias. Segundo ela, o que se pode fazer é ir para o período de descanso com o intuito de trazer algo de volta, ou seja, ficar atento ao que se está fazendo naquele período. "A reflexão sobre quais competências foram aplicadas em determinada atividade, sobre quantas vezes nos permitimos quebrar nossos protocolos durante uma viagem e o que sentimos ao fazê-lo ficam para depois da volta. É quando você vai revisitar os aprendizados e sensações que teve e analisar quais dessas coisas vai querer que perdurem no dia a dia, dali em diante", diz.

Thirza, da Homero Reis e Consultores, afirma que já presenciou, ao longo dos anos, histórias de profissionais que utilizaram esses períodos para refletir sobre grandes questões da carreira. E que iniciaram mudanças profundas a partir dali.

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É o caso do executivo da Camil, Jaime Ghisi. Oriundo da área de logística, ele foi desafiado a assumir a diretoria de recursos humanos da empresa, cinco anos atrás. Desde então, durante as viagens de férias, tem tentado observar e refletir a respeito de como as pessoas se relacionam.

"A forma como nos relacionamos passa a pesar mais que o conhecimento técnico. Refletir sobre isso fora do ambiente de trabalho (sem as pressões das reuniões, dos telefonemas) observando pessoas de outras culturas, outras línguas tem me ajudado a me aprimorar na forma como conduzo minha equipe", diz Ghisi. Ele afirma que a prática tem contribuído para que seja mais paciente. "Nessas épocas, tento ouvir mais que falar. É algo que estou aprendendo e é importante para um gestor", afirma.

O programa da viagem não precisa incluir um retiro espiritual, a escalada a uma montanha ou uma atividade radical para ter efeito. Embora os especialistas concordem que as experiências mais extremas tragam impactos maiores no retorno ao trabalho.

Para a professora e doutora em linguística Denise Aragão, as férias sempre representaram oportunidades de rupturas. Ela conta que sempre evitou a tranquilidade dos resorts e, entre as experiências mais marcantes que viveu nas férias - e que consequentemente impactaram sua vida profissional - destaca duas. A primeira foi ter feito o caminho de Santiago de Compostela.

"Não escolhi por nenhuma razão espiritual, e sim pelo desafio esportivo e pela chance de conhecer outras culturas", revela. "Lá traçávamos planos ao ver uma cidade próxima, mas, à medida que caminhávamos, o destino se deslocava no horizonte e víamos que nosso planejamento de nada adiantara", conta Denise que também destaca os momentos de solidão que viveu durante a viagem, o que sempre a fez rever conceitos. "Teve momentos em que não parava de pensar na minha tese de doutorado, por exemplo", conta.

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Outra experiência citada pela professora foi uma viagem à Antártica, onde o contato profundo com a natureza e a noção de que as regras que regiam o local não eram as mesmas que ela seguia na vida a fizeram refletir sob diversos aspectos. "Do ponto de vista profissional, todas essas experiências sempre renovaram minha criatividade. Toda vez que rompi com minha realidade voltei mais atenta e com o desejo de dar aulas de uma forma diferente, de dar aulas cada vez melhores", afirma a professora.

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'Mais equilibrado emocionalmente'Já virou ritual, todos os anos o diretor de operações automotivas da Schulz, Bruno Salmeron, se programa para correr uma maratona em algum lugar do mundo durante as suas férias. No último ano, ele cumpriu o desafio pela 14ª vez na maratona de Estocolmo, na Suécia. O compromisso que assumiu é respeitado e admirado pelos sócios e acionistas da empresa, diz ele, que todo ano perguntam onde ele irá correr em seguida.

O diretor conta que tudo começou pouco antes do período de provas no MBA que fazia no Insead, na França. Tentando aliviar a tensão dos alunos, um professor indicou que fossem correr no bosque que fica atrás do campus. Pesando 92 quilos na época Salmeron lembra que apenas foi caminhar no local. Depois passou a correr e a se apaixonar por maratonas. "Não sou o mesmo sem essa programação e sempre alio esse planejamento com algum objetivos profissional", conta o executivo.

A cada linha de chegada que atravessou, Salmeron afirma ter evoluído em algum sentido. "No geral creio que todas essas maratonas me permitiram ser uma pessoa mais equilibrada do ponto de vista emocional. São 42 quilômetros que você percorre totalmente sozinho. Ainda que toda a preparação envolva outras pessoas e que o apoio delas seja muito importante, é um momento solitário, em que você tem a oportunidade de refletir muito."

Especialista em governança corporativa, Salmeron conta que a forma como as pessoas estabelecem relações e conexões é o principal tema das suas observações e reflexões em todos os locais onde vai correr. "Discutir governança corporativa é discutir gente e como as pessoas se unem para obter resultados melhores. Essa é a reflexão que mais faço", conta.

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Interessado pelo sustentabilidade de organizações familiares (hoje dirige uma empresa familiar e já esteve à frente dos negócios da própria família), Salmeron conta também que as viagens o permitiram fazer networking com outras pessoas que o levaram a conhecer diversas empresas familiares ao redor do mundo.

Para o executivo, o período em que faz uma pausa no trabalho é importante também para rever os rumos da carreira e definir os próximos passos. "Eu vejo muitos colegas perdendo qualidade de vida, chegando no limite e tendo de parar totalmente para fazer um período sabático. Eu tento evitar chegar ao limite desta forma, refletindo sempre nas minhas pausas."/L.C.

Ano sabático contribui para revisão de rumosDepois de passar por diversas instituições financeiras, ao longo de 15 anos, e chegar ao posto de sócio na última, Rafael Fuganti decidiu fazer uma pausa longa. Em fevereiro de 2012, vendeu a sua parte na sociedade para tirar o seu ano sabático. O excesso de pressão e a dificuldade de conciliar trabalho de qualidade de vida foram preponderantes para a decisão do ex-executivo, que afirma que irá avaliar bem a possibilidade de retornar ao mesmo mercado. "Nesse período, fiz uma revisão na minha lista de valores e hoje o tempo que eu tenho para mim pesa muito mais", diz.

O ex-executivo diz que, no período em que está se dedicando a projetos pessoais, conseguiu enxergar novas possibilidades para a carreira. "Sinto que estou plantando sementes, e não mais que é a empresa quem decide o meu futuro", afirma. "Períodos sabáticos são construtivos. Servem para ajudar as pessoas a diferenciar as rotas da carreira e decidir por onde seguir", diz a diretora técnica da Homero Reis e Consultores, Thirza Sifuentes. Segundo ela, mesmo que a escolha após esse período seja a de continuar na mesma área, o profissional voltará com outro olhar, e mais capaz de lidar com as pressões que antes o impediam de continuar naquela rotina./L.C.

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