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Opinião|Após o parto, mães demoram até dois anos para retornar ao mercado de trabalho

Sucesso. Lívia mantém carreira executiva, mas preserva  participação na vida da única filha(Imagem: Sérgio de Castro/Estadão)

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Atualização:

JÉSSICA OTOBONI E JULIA MANDIL - Especial para o Estado 

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A maciça presença das mulheres no mercado de trabalho é uma realidade no Brasil, mas ainda representa um desafio para as mães que tentam conciliar a carreira profissional e o cuidado com os filhos. Pesquisa realizada pela agência de empregos Catho aponta que a maior parte delas tem adiado em até dois anos a volta ao mercado. Dentre 1.190 entrevistadas que se declararam mães de um total de 8.205 respondentes, 50,4% retornaram ao trabalho até 24 meses depois do parto. Além disso, 23% demoraram mais de três anos para se recolocar no mercado, e 14,4% disseram ainda estar sem ocupação.

A decisão de postergar o retorno à atividade profissional está relacionada não só à atenção dada aos filhos, mas a uma ponderação sobre gastos. Para famílias com renda mais baixa, arcar com creche, alimentação e transporte é muito oneroso, o que torna mais difícil o afastamento das mulheres de suas tarefas maternais, segundo especialistas em recursos humanos.

Em 2010, a baiana Anielle Nascimento, hoje com 26 anos, não conseguiu se manter no escritório de contabilidade onde trabalhava depois de cumprir o período de licença maternidade por não ter com quem deixar sua filha durante o expediente. Somente após sete meses, ela conseguiu outra ocupação, e há um ano está desempregada.

"Era complicado. Eu não podia deixar minha filha sozinha e não confiava nas creches por ela ser muito nova", diz. Desde que saiu do último emprego, no ano passado, Anielle enfrenta dificuldades para ser contratada: ela diz que todos os recrutadores perguntam sobre a idade dos filhos das candidatas e se há alguém para cuidar das crianças durante a ausência materna.

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VEJA TAMBÉM: Negócio em casa é saída para mães ficarem com seus filhos

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Além da resistência em contratar, algumas empresas aproveitam o momento após a licença para dispensar funcionárias que não estejam apresentando os resultados desejados, de acordo com a consultora Lilian Kozlowski Wizenberg, da BBS Business School. Para ela, o distanciamento das mães em relação ao mercado, independentemente do motivo, pode se tornar um problema. "E a mulher demora para voltar não pelo fato de ter filhos, mas pelo período em que ficou afastada", diz.

Para as companhias interessadas em manter talentos, o ideal é que elas desenvolvam políticas visando ao bem-estar das mães. "É preciso criar um plano de apoio à mulher para mostrar o quanto o ambiente se preocupa com ela e com sua carreira", diz a professora especializada em mercado de trabalho Carmen Pires Migueles, da FGV.

Equilíbrio. Se para muitas mulheres é difícil aliar maternidade e trabalho, algumas conseguem driblar a situação graças ao auxílio da família, à condição social e ao próprio trabalho. Quando Lívia Azevedo, de 43 anos, ficou grávida, tirou apenas quatro meses de licença. A vice-presidente da rede de supermercados Walmart contou com o apoio do marido e de uma empregada doméstica para se acostumar à nova rotina. Mesmo assim, teve que acompanhar alguns momentos da vida da criança, como idas ao pediatra e à escola, por conference call. Hoje, ela se divide entre a carreira e a filha de 12 anos. "Não viajo a trabalho por mais de uma semana e procuro estar presente nas atividades dela e em datas importantes como aniversários e Dia das Mães."

Quando assumem posições de liderança na empresa, as mulheres têm mais facilidades para administrar a carreia e dar atenção aos filhos: para aquelas que não ocupam cargos operacionais, o poder de negociação sobre a licença e a possibilidade de fazer home office aumenta, segundo o CEO da agência especializada em planejamento de carreiras Produtive, Rafael Souto. Foi o que aconteceu com Lívia. Para ela, o apoio que recebeu durante a gravidez foi uma espécie de bônus pelo trabalho desempenhado na empresa.

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