Primeira Classe

Lucas di Grassi: os desafios de pilotar na 24 Horas de Le Mans

O blog promove hoje a estreia da seção “Blogueiro Convidado”. Meu primeiro colaborador é o Lucas Di Grassi, que conta... leia mais

Rafaela Borges

30 de jul, 2014 · 9 minutos de leitura.

Lucas di Grassi: os desafios de pilotar na 24 Horas de Le Mans

O blog promove hoje a estreia da seção “Blogueiro Convidado”. Meu primeiro colaborador é o Lucas Di Grassi, que conta como é a experiência de disputar a corrida mais emblemática do mundo, a 24 Horas de Le Mans.

Lucas está em sua segunda temporada no Campeonato Mundial de Endurance (WEC), da qual faz parte a corrida de Le Mans e que, pela terceira vez, terá uma etapa no Autódromo de Interlagos  – em novembro.

Piloto da Audi, ele foi terceiro colocado na prova do ano passado e, na edição de 2014, disputada em junho, ficou na segunda posição na 24 Horas de Le Mans.

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Lucas também atuará na nova categoria da FIA, a Fórmula E. Em 2010, disputou o campeonato de Fórmula 1 pela equipe Virgin (atualmente Marussia).

 

TEXTO E FOTOS: LUCAS DI GRASSI 


A partir da esquerda, Lucas, Loic Duval e Tom Kristensen. Duval sofreu um acidente durante a classificação e foi substituído, na corrida, por Marc Gené. Eles pilotaram o Audi R18 eTron de número 1

 

A 24 Horas de Le Mans é uma das corridas da tríplice coroa do automobilismo, junto com o Grande Prêmio de Mônaco (Fórmula 1) e a 500 Milhas de Indianápolis (Fórmula Indy). E é a mais difícil e cheia de particularidades, por exigir uma combinação entre extrema velocidade e resistência.

A última edição da corrida foi muito especial por marcar o retorno da Porsche à competição. A marca se reuniu à Audi e à Toyota na principal categoria, a LMP1.


Foi também muito emocionante, pois, nas 24 horas, houve mais de 15 trocas na primeira posição. Um Toyota e um Audi bateram logo no início. No meio da corrida, um dos Porsche quebrou.

Na 16ª hora, ocorreu a quebra de outro Audi, que depois voltou para a pista. Meu Audi, que dividi com o Tom Kristensen e o Marc Gené, quebrou na 21ª hora, quando liderávamos a corrida.

Tivemos um problema no turbo do motor, que foi trocado em 15 minutos. Como exemplo, Em um carro de rua, consertar um defeito assim leva de 10 a 12 horas sem parar. Então, conseguimos voltar e terminamos a corrida no segundo lugar.


Eu listei algumas das particularidades da 24 Horas de Le Mans, das categorias ao público, dos carros ao estilo de pilotagem.

 

CATEGORIAS E CARROS


São quatro. A LMP1 é a principal, para protótipos híbridos que têm motor elétrico na dianteira e a combustão na traseira (a diesel, nos Audi, e a gasolina, nos Toyota e nos Porsche). Os carros pesam 850 quilos e podem atingir até 1000 cv, com a ajuda de dispositivos que elevam a potência temporariamente (como o Kers, da Fórmula 1).

Os protótipos chegam a 350 km/h e, em Le Mans, a média de velocidade é de 230 km/h durante as 24 horas. Assim, estão entre os carros mais rápidos do mundo.

A categoria LMP2 também é voltada para protótipos. A GT Pro, com carros de turismo, é para pilotos profissionais. A GT Am, para amadores.


São considerados amadores aqueles que correm por hobby, não por profissão. Porém, é preciso ser muito experiente, ter participado de corridas por vários anos e possuir carteira internacional de piloto do tipo B, que é bem difícil de tirar.

Esta categoria acaba atraindo alguns nomes famosos de outras áreas. Na corrida deste ano, participaram o ator Patrick Dempsey e o ex-goleiro da seleção francesa de futebol Fabien Barthez.


LE MANS X FÓRMULA 1

Tanto na Fórmula 1 quanto no WEC, o objetivo é andar rápido. Porém, na 24 Horas de Le Mans é preciso rodar 6 mil km, mais do que em todas as 19 provas da F-1 somadas.

No Fórmula 1, cujos carros têm rodas expostas, 600 quilos e cerca de 800 cv, o piloto tem de andar sempre no limite, pois cada milésimo de segundo é precioso. Um ou dois décimos são cruciais para vencer a corrida e, se o piloto cometer um erro, pode se recuperar no próximo Grande Prêmio.


Em Le Mans, não dá para errar, pois a próxima corrida é só no ano seguinte. Então, temos de ser rápidos, mas também consistentes. É importante aprender a andar com tráfego, pois há muita diferença de velocidade entre os carros de categorias distintas. E também se adaptar à condução à noite, pois a visibilidade é bem ruim.

Quanto aos carros, os protótipos têm conceitos de engenharia mais livres e podem receber recursos eletrônicos, como a tração 4×4, não permitida na Fórmula 1.

Em Le Mans, eles são tão rápidos quanto um F-1, pois foram feitos para rodar neste tipo de pista, com retas longas. Já em um circuito como Interlagos, cheio de curvas e com retas mais curtas, não.


 

DESGASTE FÍSICO

Cada piloto guia duas vezes durante a 24 Horas de Le Mans, em turnos de quatro horas. O desgaste físico é intenso. Perde-se cerca de um litro de água a cada hora de corrida, o que significa oito litros ao final da prova.


A recuperação do corpo após a prova leva, em média, uma semana. É o mesmo que ocorre com um atleta que disputa uma prova de Iron Man.

 

Kristensen, Lucas e Gené. Selfie no pódio e “mar” de 50 mil pessoas

PÚBLICO


Neste ano, o público da 24 Horas de Le Mans foi de 310 mil pessoas. As pessoas se diferenciam por serem apaixonadas por carros. Estão lá porque gostam e entendem de automóveis.

O contato com o público é muito maior do que na Fórmula 1. Mais de 50 mil pessoas invadiram a pista para assistir a cerimônia do pódio. É um mar de gente. Eu nunca tinha visto isso antes. Fiz até um “selfie”.

 


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