O raro e cobiçado Passat 4M

O material promocional da Volkswagen, em 1978, informava: “O Passat 4M é uma edição rara e limitada, com apenas mil unidades”. “Única, sóbria e elegante”. Após um longo texto que listava as qualidades do carro, o fecho: “Passat 4M. Um carro inconfundível para as mil pessoas mais exigentes deste País”.

Vinte e oito anos depois, em 2006, ao fazer uma proposta de compra de um Passat a um vendedor ambulante que usava o veículo no trabalho, o técnico em videogames Rafael Figueira Lopes Neto não sabia que estava diante dessa raridade. Ele arrematou o carro com a ideia que muitos jovens têm hoje: incrementar a mecânica, turbinar o motor e acelerar pelas ruas de São Paulo.

O plano seria colocado em prática se Rafael não tivesse sido alertado pelo mecânico que iria fazer o serviço de que aquela era uma série especial tão rara quanto cobiçada por colecionadores. O projeto, então, passou a ser recuperar o carro e lucrar com a venda. “Só que mudei de novo de ideia e resolvi resgatar a originalidade do Passat. Há dez anos venho mexendo nele, e ainda não terminei”, diz.

O Passat 4M foi concebido para comemorar 4 milhões de veículos fabricados pela Volkswagen no Brasil. Essa série especial consistia, grosso modo, de um Passat LS com a bela frente do Passat TS, de quatro faróis redondos – a versão LS trazia apenas dois faróis, de maior diâmetro – e alguns itens diferenciados de acabamento.

O carro de Rafael teve algumas modificações realizadas ao gosto do dono, mas mantém basicamente as características de quando saiu da fábrica. A cor é o cinza grafite metálico, única opção para essa série especial. Ainda na parte externa, o carro traz borrachão nos para-choques e moldura cromada abraçando grade e faróis, o que causa um efeito estético de impacto. A grade dianteira abriga o emblema 4M, em vermelho.

O interior, monocromático marrom, tem bancos bege e rádio FM estéreo. O motor é o original MD 1.5, de 78 cv – que a Volkswagen afirmava, orgulhosamente, ser “a maior (potência) já atingida por motores de 1.500 cc” -, mas com algumas partes cromadas.

Para dar seu toque pessoal ao carro, Rafael instalou rodas aro 14 de Variant II (na versão original do 4M, as rodas eram aro 13, pintadas na cor da carroceria). A parte frontal do painel de instrumentos foi revestida com adesivo imitando madeira (a original era toda preta). Um console com instrumentos da versão TS foi instalado. Os faróis têm lente amarela (no 4M, apenas as lâmpadas eram nessa cor). E o câmbio, de quatro marchas, foi substituído por um de cinco velocidades.

O carisma do carro é incontestável. Em cerca de meia hora de conversa com Rafael, no Parque da Luz, três pessoas se aproximaram e perguntaram se o carro estava à venda. Outra pergunta inescapável: “Quanto vale?”. “Todo mundo pergunta isso, e eu digo que não sei. Além de ser um carro raro, estou trabalhando nele há dez anos, o que também não tem preço, e só uso peças originais. Não tenho a menor intenção de vender”.