Placa Amarela

Do saco de bode ao GPS

Mercado de acessórios para automóveis se sofistica, mas já houve a fase em que imperava o politicamente incorreto

Roberto Bascchera

27 de jun, 2014 · 4 minutos de leitura.

Do saco de bode ao GPS
Crédito: Mercado de acessórios para automóveis se sofistica, mas já houve a fase em que imperava o politicamente incorreto

Dia desses estava numa loja instalando sensor de estacionamento no carro e pensei como o mercado de acessórios anda sofisticado. Equipar, hoje, significa colocar DVD, GPS, rodas importadas, som com USB, Bluetooth e uma parafernália eletrônica toda batizada em inglês. Mas já houve tempo em que a incipiente indústria brasileira de equipamentos para automóveis não ostentava tanta tecnologia e sofisticação.

Os nomes eram bem mais simplórios, muitos politicamente incorretos. O acessório cromado que enfeitava os dutos de refrigeração na tampa traseira do Fusca, por exemplo, atendia pelo nome de “dentadura de baiano”. Se fosse para a grelha do capô dianteiro, era só pedir na loja uma “churrasqueira”.

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Também nos Fuscas nacionais, os fabricados entre 1959 e 1962, o recipiente que armazenava a água que limpa o para-brisa era o "saco de bode" ou "mamadeira" - esse era um equipamento do carro, não acessório.

E a alça no painel em boa parte da linha Volkswagen era (e aínda é) o famoso "PQP", abreviação da expressão utilizada por muita gente em momentos de pânico...


O porta-objetos de palhinha ou bambu instalado abaixo do painel era popularmente conhecido como “quebra joelho”.


E o banquinho que "unia" os dois bancos e escondia a alavanca do freio de mão nos Fuscas recebeu o sugestivo apelido de “chega mais”.

As “bananinhas”, luzes indicadoras de direção, faziam as vezes da seta nos Fuscas e Kombis dos anos 50. Como eram frágeis e caras, muitos motoristas a substituíam por luzes indicadoras fixas também na coluna B, as "orelhas de padre". Ainda no capítulo indicadores de direção, as primeiras setas instaladas na dianteira das Kombis ficaram conhecidas como "tetinhas", pelo seu formato peculiar.


As rodas eram um capítulo à parte. Elas podiam ser modelo “castelinho”, “bolo de noiva”, "cruz de malta", "Ferrari", “mexerica”, entre vários outros apelidos. As “gaúchas” também eram muito populares e foram imortalizadas pelos Mamonas Assassinas na Brasília Amarela.

Dirigir o carro com o braço de fora hoje é considerado infração média de trânsito, que rende multa e quatro pontos na carteira. Mas nos anos 60 e 70, era um hábito tão arraigado que existia um acessório que, instalado na porta, junto à muldura do vidro, evitava que a pintura da porta fosse danificada: a "sovaqueira".


O politicamente incorreto da época tinha outras variantes. O farol auxiliar instalado na altura do retrovisor externo do motorista era chamado de “caça-mulata”. E, nos primórdios dos Fuscas, uma portinhola que se abria na lateral do carro, entre a porta e o para-lama, servia para refrigerar a cabine e atendia pelo nome do “gela-saco”.

No mercado de carros antigos, hoje, alguns desses acessórios, por sua raridade, são disputados a peso de ouro.

 


 

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