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Vinícolas urbanas crescem no topo dos prédios em Nova York

Cidade de Nova York testemunha movimento crescente de produção de produtores urbanos

Vinícolas urbanas crescem no topo dos prédios em Nova YorkFoto:

The New York Times

Numa tarde gelada de outubro em Williamsburg, o enólogo Chuck Gergley e dois estagiários transportam 11 toneladas de uvas Riesling numa esteira rolante. “Há um pouco de agressividade no trânsito”, diz o enólogo-assistente da Brooklyn Winery, que passa a temporada da colheita às voltas com o desengace, a inoculação e a prensagem das uvas – e às vezes também plantado em um cruzamento movimentado para bloquear o trânsito e conseguir que a empilhadeira desembarque as uvas de caminhões de 22 toneladas estacionados a uma quadra de distância. “O pior são os ciclistas, que continuam pedalando”, diz o enólogo principal, Conor McCormack.

Vários bairros mais ao sul, no Pier 41 em Red Hook, o produtor da Red Hook Winery, Christopher Nicolson, enfiava o braço numa montanha de uvas cor roxa. “Não é um som maravilhoso?” Ele conta que a uva havia chegado há pouco de Sannino Bella Vita Vineyard, a duas horas de distância do Brooklyn, na cidade de Peconic, Long Island.

Pequeno produtor urbano, Christopher Nicolson, da Red Hook Winery, trabalha no Pier 41 com uvas vindas de Long Island. FOTOS: Bryan Thomas/NYT

As duas vinícolas fazem parte de um crescente movimento de produção urbana de vinhos na cidade de Nova York. Hoje, existem oito produtores oficiais na cidade, embora a maioria faça o seu vinho em instalações mais ao norte do Estado. A Brooklyn Winery, a Red Hook e a City Winery de Manhattan produzem na cidade. E há inclusive um vinhedo de cerca de mil metros quadrados no topo de um edifício no Brooklyn Navy Yard, chamado Rooftop Reds. A primeira colheita será no próximo ano e a primeira safra de vinho será a de 2017.

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É estranho pensar na cidade de Nova York como uma região vinícola. “Há profissionais que estão no ramo há anos e dizem: ‘Ah, vocês fazem vinho no Brooklyn – não pode ser de boa qualidade”, conta McCormack. Ele se mudou do norte da Califórnia com a família para o Brooklyn em 2010, onde os fundadores da butique de vinhos, Brian Leventhal e John Stires, prometeram que ele teria total liberdade. “Mas, no fim, o que está no copo não mente.”

Os novos vinicultores dizem que não há nenhuma razão para que o vinho produzido nos cinco bairros não possa obter o mesmo reconhecimento das barras de chocolate, do mel e da carne seca de Nova York. “A ideia é fazer com que o vinho de Nova York possa competir com os vinhos mundiais”, diz Mark Snyder, fundador do Red Hook.

A Rooftop Reds tem 168 vinhas no topo de um edifício no Brooklyn

A cidade tem uma longa tradição de produção doméstica de vinhos, com as vinícolas kosher no Lower East Side de Manhattan e os imigrantes ítalo-americanos transformando uvas em vinhos de mesa no subsolos de suas habitações.

Mas o comércio de vinhos foi impulsionado em parte pela legislação sobre Vinhos Finos, de 2011, que abrandou as restrições aos produtores e estimulou as parcerias comerciais com empreendedores urbanos, como Alie Shaper, da Brooklyn Oenology, que está cultivando um “terroir no Brooklyn” com vinho que faz no norte do Estado e com o rótulo de arte do Brooklyn.

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Mas como é possível criar um terroir em um ambiente mais conhecido por suas ruas congestionadas, pelo metrô e pelos arranha-céus? Snyder acha que a ideia do terroir é romantizada. Ele contratou dois produtores californianos para fazer seus vinhos, Robert Foley, cujos tintos Napa se tornaram cult, e Abe Schoener, conhecido por ter introduzido a fermentação do vinho laranja nos EUA. “Nosso objetivo é mostrar que Long Island tem sua voz própria – e muitas expressões possíveis.”

A vinícola Red Hook funciona com um mínimo de maquinário. “Nosso equipamento é muito especial, é composto na maior parte de mãos humanas, pés, narizes e línguas”, explica o enólogo. Ali as uvas são esmagadas com os pés. Os produtores separam as cascas e as sementes do suco numa prensa de pequena capacidade – que lembra uma máquina manual de moer café. Os vinhos são fermentados em barricas antigas, que ficam empilhadas ao redor da vinícola e na cantina onde Nicolson as gira diariamente, prova e cospe no chão.

Na Brooklyn Winery, a maior parte das uvas vem de Nova York, mas parte vem de vinhedos mais a oeste e, no início da vinícola, do Chile. Elas viajam em caminhões refrigerados rastreados por GPS até o salão de 700 metros quadrados de uma extinta boate, onde funcionam a vinícola e um restaurante.

O “trabalho molhado” é feito num espaço de 185 metros quadrados com pisos de concreto, tetos altos e paredes de tijolo brancas, onde McCormack, Gergley e uma pequena equipe descarregam, escolhem e fazem o desengace das uvas, que então repousam por 24 horas antes de os vinhos serem inoculados com fermento. As uvas fermentam por até 14 dias em tanques de aço inoxidável. Depois as uvas são prensadas, separando a casca e as sementes do líquido, que vai para a segunda fermentação em barris de carvalho. O engarrafamento é feito de seis meses a dois anos mais tarde. Os vinhos da Brooklyn Winery custam de US$ 19 a US$ 45 em todo o Estado.

O Rooftop Reds levou a ideia de um terroir urbano ainda mais longe. No Brooklyn Navy Yard, suas 168 vinhas estão sendo cultivadas num telhado com vista para um reservatório de água, chaminés de fábricas e o perfil dos edifícios de Manhattan. “Queremos levar os vinhos aos nova-iorquinos”, diz Devin Shomaker, 31, que estudou viticultura no Finger Lakes Community College e fundou a vinícola com o irmão Thomas Shomaker e o amigo Chris Papalia, em 2013. A Rooftop Reds é a primeira vinícola urbana viável comercialmente.

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“O clima marítimo do Brooklyn é perfeito para controlar fungos, e o topo do prédio tem vantagens fotossintéticas em relação ao vinhedo tradicional”, disse Shomaker. Os vinhos de topo de prédios seguem o corte de Bordeaux: Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot. “Estamos começando e as possibilidades são ilimitadas”, diz Shomaker.

* Tradução de Anna Capovilla

>> Veja a íntegra da edição de 29/10/2015

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