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Um dia no estúdio-cozinha de 'MasterChef'

Um dia no estúdio-cozinha de 'MasterChef'Foto:

São 10h45 da sexta-feira, 12 de setembro, e o movimento no estúdio do MasterChef é intenso. Produtores, assistentes e técnicos circulam pelos três ambientes destinados ao programa gastronômico do momento na sede da Rede Bandeirantes, no Morumbi. Com seus comunicadores presos às lapelas e cintos de utilidades pendurados no corpo, vão de um lado para outro fazendo os últimos ajustes no salão de cinco bancadas de cozinha onde a gravação vai começar.

Cada bancada tem espaço para dois concorrentes, com fogão, pia, lixeira e itens básicos como sal, azeite e água mineral. Gavetas escondem talheres e utensílios. Panelas e louças ficam em prateleiras no fundo. Na parte frontal, uma mesa exibe cinco peças de carne fresca.

 
 
 

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Imagens do estúdio do MasterChef, na Rede Bandeirantes. FOTOS: Nilton Fukuda/Estadão

Paola Carosella, Henrique Fogaça e Erick Jacquin – os três jurados que têm o poder de eliminar os concorrentes – chegam juntos ao local, seguidos por Ana Paula Padrão. Estavam descontraídos, sem a cara fechada que exibem no programa. Começava um exaustivo dia de gravação do reality show. Na manhã seguinte, todos viajariam para a Argentina para três dias de filmagem. O programa de 17 episódios começou a ser exibido há três semanas e é considerado um sucesso pela Band. Com audiência média de 4 pontos no Ibope, o semanal foi ao ar com todas as cotas de patrocínio vendidas.

O MasterChef brasileiro mantém o formato criado no Reino Unido em 1990 e exibido em mais de 40 países. Os candidatos enfrentam desafios que vão desde preparar receitas específicas a improvisar com ingredientes, passando por testes de fundamentos da cozinha. Uma das provas do segundo episódio foi cortar cebolas à julienne (em tirinhas) e à brunoise (em cubinhos) em grande velocidade. Antes da competição, Henrique Fogaça demonstrou os cortes – passou batida pela produção, porém, uma gafe do chef: ele segurou errado a faca, com o dedo indicador esticado sobre a lâmina.

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Os concorrentes são cozinheiros amadores. Como alguns milhares se inscreveram para a primeira edição do reality, foi feita uma peneira inicial e 300 aspirantes foram à Praça Charles Miller, em frente ao Pacaembu, levando pratos de sua assinatura. Desses, apenas 30 entraram na cozinha. Para a gravação de sexta, sobraram apenas sete. Às 11h13 eles entram na cozinha. Posicionam-se, um em frente a cada bancada, e esperam as ordens. Os jurados vão explicar a prova do dia.

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“Escolhemos jurados entre os membros da elite da gastronomia brasileira”, diz Diego Barredo, gerente de conteúdo da Eyeworks Cuatrocabezas, produtora que levou o formato do programa para a Band. Os testes começaram há cerca de oito meses. Fogaça e Paola Carosella fizeram a audição com outros chefs. Tiveram de simular o trabalho de jurados em uma espécie de episódio piloto. Jacquin diz que foi testado há mais de um ano, para outro formato de programa. E está perfeito no papel de jurado brigão, que faz desaforos com tiradas de humor.

Exceto por participações em alguns programas culinários, é a estreia também dos jurados na televisão. Por isso, um dos critérios para a seleção era o desembaraço em frente às câmeras. Os chefs dizem que se soltaram graças aos conselhos do diretor, Patricio Diaz, e de Ana Paula Padrão, apresentadora do programa. “Ela tem muita experiência com televisão e nos ajuda muito”, conta Paola. Dizem que não foram condicionados a seguir determinado perfil – mas todos fazem cara de mau.

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Vez ou outra, há engasgos na hora de decorar os textos. (Um dos jurados, por exemplo, errou exatas dez vezes uma frase de merchandising que deveria ser dita aos participantes.) Porém, o que predomina é a química entre os jurados. Antes do programa, eles apenas se conheciam. Agora criaram intimidade e encontraram seus papéis.

Aula. Carosella tira um elástico das mãos e prende o cabelo. Amarra um lenço na cabeça e conta aos participantes a melhor forma de preparar uma peça de carne bovina. É um dos momentos protagonizados pela chef argentina. Os outros jurados terão sua hora de brilhar – em um episódio do programa, Fogaça vai levar para o estúdio alguns amigos de seu motoclube, enquanto Jacquin ensina como fazer o petit gâteau que trouxe para o Brasil.

Depois de quase uma hora da aula de Carosella, o diretor anuncia intervalo de três minutos. É o tempo para que um mar de produtores entre em ação, limpando a bancada. Em períodos livres fora das gravações, os concorrentes participam de oficinas com consultores gastronômicos relacionados à Eatinerante – empresa de catering do chef Alex Caputo. Eles também são responsáveis pelo mercado onde todos escolhem os ingredientes de suas receitas.

“É preciso dar aulas para que os concorrentes acompanhem o nível de exigência crescente ao longo dos episódios”, diz Barredo. Há explicações teóricas sobre a organização da cozinha, além de oficinas práticas que ensinam técnicas de preparo de ingredientes como peixes, carnes e massas.

Os jurados não participam desses treinamentos dos candidatos para não perder a objetividade e não se envolver. “Não podemos criar laços”, diz Jacquin. “Somos exigentes e duros, mas estamos acostumados a esse tipo de relação.” A rigidez é vista o tempo todo na gravação do episódio. Ao provar um arroz, Paola pergunta ao participante que tipo de água foi usada. Era de torneira, fervida. “Mas o que vocês têm no ouvido? Falamos mil vezes que é para usar água mineral, tem garrafas cheias à disposição e vocês não usam?”, diz a chef, exaltada. Em outro momento, Fogaça reclama que os cozinheiros amadores “assassinaram a carne”.

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Porém, não há só trocas de farpas entre jurados e participantes. “Eu poderia ter feito esse prato”, admite Carosella a um dos concorrentes. Em programas anteriores, Fogaça se emocionou com a história de uma cozinheira do Amapá que usou ingredientes locais – e aquele homem todo tatuado com ar moderno desabou em lágrimas. Jacquin surpreendeu ao elogiar um prato decorado por uma singela borboleta. No fim, a palavra final é da comida – mesmo quando as atitudes do candidato incomodam. “Não eliminaria alguém apenas pela arrogância. Antes, entram critérios como sabor, apresentação e organização”, garante Fogaça.

O sabor do prato deu as ordens às 15h23 daquela tarde, quando Paola anunciou: “Em restaurantes, temos oportunidades únicas. Aqui, é o prato que fala. Sem desculpas.” E eliminou o candidato (que não vamos revelar para não ser spoilers), que foi embora, seguido por meia dúzia de câmeras e produtores.

Chef na TV. Fogaça, Paola e Jacquin negam os rumores de que o movimento de seus restaurantes aumentou após a estreia do programa. Para eles, continua a mesma coisa. O que muda é a rotina: após seis ou oito horas diárias no estúdio, ainda têm de passar a noite na cozinha. Diariamente. Dizem que até agora, só ouviram elogios dos colegas. “Quando você vai para a TV, sabe que vai ter gente te achando idiota, errado. E que vai ter gente que acha maravilhoso” diz Jacquin.

O último episódio da série vai ao ar em dezembro. O vencedor vai levar um prêmio de R$ 150 mil, um carro e uma bolsa de estudos na célebre escola de cozinha Le Cordon Bleu, em Paris. Além da fama e da chance de deixar o amadorismo. “Mas a rotina de um reality é diferente de uma cozinha profissional, onde tudo é mais intenso”, adverte Paola. A chef conta que alguns dos concorrentes eliminados na seletiva do Pacaembu pediram estágio em seu restaurante, o Arturito. “Marquei entrevistas. Eles não foram.”

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FOTO: Rodrigo Belentani/Divulgação

OS IMPLACÁVEIS

Henrique Fogaça As tatuagens e a poker face que ele faz ao provar os pratos escondem a figura mais humana do júri. O chef do Sal Gastronomia não poupa palavras duras, mas leva em conta a história dos participantes em suas decisões. Na dureza, é o mais gentil. “No final, o sabor é que fala.”

Paola Carosella Ela é implacável. Às vezes faz o papel de falsa boazinha. Depois de cada garfada, olha firme nos olhos do concorrente e dá uma risadinha no canto da boca. Como jurada, é a mais exigente: “Ajo como se estivesse no meu restaurante. Se não fez um bom trabalho, não importa se chorar”.

Erick Jacquin A personalidade difícil do chef francês não é novidade. A surpresa é o jeito que ele leva para a TV. Faz provocações e perde a paciência: “Paola, desliga essa mulherr, ela não párra de falar”. É quem mais gosta de comer: dá garfadas com gosto.

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>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 18/9/2014

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