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Bebida

Toque floral, mas só de conta-gotas

de M. Carrie Allan THE WASHINGTON POST

Toque floral, mas só de conta-gotasFoto:

Sabores florais estão marcando presença em diversas bebidas atualmente: licores delicados, gins botânicos complexos, bitters, tinturas e numa estufa inteira de aromas e gostos decorativos. Pode reparar, os toques florais andam por toda parte na coquetelaria. O negocio funciona mais ou menos assim: coloque um botão de rosas em uma bebida com tintura de violeta e você poderá oferecer aos seus convidados uma espécie de Monet para beber.

Mas cuidado com o exagero: o excesso floral faz mal às bebidas. Licores e outros ingredientes com aromas de flores acentuam demais o doce. Owen Thomson, bartender do Cafe St. Ex, Bar Pilar e Rose’s Luxury se diz “sempre cuidadoso com ingredientes florais para não correr o risco da bebida ficar com gosto de uma loja de velas aromatizadas”. O especialista passa longe de sabores como água de rosas, mas recentemente usou xarope de centeio com rosas, suco de lichia e pétalas em uma competição de coquetelaria que exigia o uso das flores.

Perfume. Rosas comestíveis, bastante usadas em drinques. FOTO: Pornchai Kittiwongsakul/AFP

Não é apenas a doçura que vira ameaça, é também a fragrância. “Quando a bebida fica com um perfume de flores muito acentuado a memória que ele dispara em mim é a de minha avó”, diz Bob Peters, bartender do Charlotte, na Carolina do Norte. “É muito vivo na minha cabeça esse momento de quando você é criança, não vê sua avó há um tempo e ela o abraça. A bebida passa de repente de uma experiência agradável para algum lugar no qual você não espera estar.” Ninguém quer começar a noite no balcão do bar e acabar em um divã freudiano.

Em um dos seus drinques multicoloridos, Peters põe nastúrcio laranja, flores de rúcula e wasabi. É para ficar bonito, seguindo o mantra “primeiro se come com os olhos”, neste caso, bebe-se. Com flores, “trata-se de edição: menos é mais”, diz Peters. “A bebida deve lembrá-lo de algo agradável, doce e romântico. Doce é a emoção, não necessariamente o sabor.” Quando a flor está em infusões ou decorando pratos, o que aparece ali é o cítrico.

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Há uma diferença entre flores comestíveis e flores comerciais. Peters tem trabalhado com um agricultor local, Jamie Swofford, que o avisa sobre o que está para florir, de violetas orgânicas a madressilvas. “Você pode comer rosas, mas as rosas que você compra na loja de flores, provavelmente, não cresceram organicamente. Então tem que ter cuidado para que aquilo que servimos não seja uma flor pulverizada algumas horas antes com algo para manter as pragas distantes ou para mantê-las com cara de frescas”. Muitas receitas de drinques recomendam “traços” de bitters e tinturas, mas a depender da bebida, traços e pitadas podem resultar em um drinque que mais se parece um perfume Chanel.

Para trabalhar com água de rosas, por exemplo, o ideal é usar um conta-gotas. A ideia é deixar a bebida com cheiro de rosas, não fazer a pessoas se engasgar com elas. E se você gosta de flores, mas não de bebê-las, tente a Lupulus humulus, uma das flores mais preciosas de todos os tempos: o lúpulo. Basta encher um pint com uma boa IPA.

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 12/2/2015

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