Por Rafael TononEspecial para o Estado
O mixologista argentino Renato Giovanonni é um dos mais conceituados profissionais de balcão do país. Presta consultoria a inúmeros bares e restaurantes de Buenos Aires e é o responsável pelas cartas de drinques de alguns dos melhores bares da cidade – entre eles o premiado Florería Atlántico, eleito Melhor Bar da América Latina, no ranking da revista inglesa Drinks Internacional.
Mas a atuação de Tato, como é conhecido, tem ultrapassado os balcões onde prepara suas inventivas misturas: depois de criar diversos drinques, resolveu fazer também um gim. A ideia surgiu quando visitou uma pequena destilaria no interior da Inglaterra. Ficou tão animado com a possibilidade de criar uma versão de gim 100% argentina que, assim que voltou ao país, começou a fazer experimentos. No princípio testou zimbro e cereais. “Mas, para que fosse um gim com alma argentina precisava de um ingrediente nacional. Foi aí que pensei em fazer a infusão com a erva-mate, uma de nossas maiores tradições”, conta. “Experimentei e deu certo.”
Para elaborar o Príncipe de los Apóstoles ele se baseou no costume nacional do tereré, bebida gelada de origem indígena feita com infusão da erva-mate, além de limão, hortelã entre outros ingredientes. Tato foi inventando até que, além do mate, misturou também eucalipto e grapefruit. Três anos de testes depois, o primeiro lote, – 4 mil unidades – foi engarrafado há cinco meses, passando a ser vendido em alguns bares e empórios portenhos.
Toque guarani. O mate aporta à bebida notas amargas e mais herbáceas que as dos gins tradicionais. FOTO: Divulgação
“Todos os ingredientes são 100% nacionais. A erva-mate vem da região de Missiones, onde é produzida há mais de cem anos de forma orgânica por aborígines”, conta.
O mate aporta à bebida notas amargas e mais herbáceas que as dos gins convencionais (feitos predominantemente de zimbro). “É o único destilado do mundo com essa erva tão emblemática em nosso país”, diz.
O gim é produzido na destilaria Sol de los Andes, na região de Guaymallén, em Mendoza. Passa por um processo de redestilação em alambique de cobre alemão. O novo lote passou pela redestilação em setembro (“quando as folhas de mate estão em seu auge”) e a expectativa do mixologista é engarrafar cerca de 8 mil unidades de gim.
Apesar da produção pequena e da distribuição por enquanto restrita à capital argentina, as encomendas já começaram. Tato conta que já tem pedidos para Inglaterra, Equador e Colômbia. Há pouco esteve em São Paulo, para acertar uma parceria para exportação. “Tudo indica que no primeiro semestre de 2014 nosso gim deva começar a ser vendido no Brasil”, diz. Na Argentina, o Príncipe custa 130 pesos, o equivalente a R$ 65. Por enquanto, só se encontra em Buenos Aires ou pela página dele no Facebook.
Estimulado pelo sucesso do gim, Tato e os sócios preparam o lançamento da Pulpo Blanco, linha de bebidas que inclui água tônica e ginger ale. Se depender deles, o gim tônica nunca mais terá o mesmo sabor.