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Restaurantes e Bares

É bairrismo, mesmo

“Não sei dizer. Foi tudo acontecendo organicamente”, responde, modestamente, Edgard Costa à pergunta de por que aquela parte de Pinheiros virou polo gastronômico. “Acho que é uma vocação da área. As ruas ali são agradáveis de andar, o terreno é plano”, diz o sócio da Cia. Tradicional de Comércio, umas das principais responsáveis pelo desenvolvimento da região – inaugurou ali o Pirajá e a Bráz no fim dos 1990 e agora vai abrir uma Lanchonete da Cidade na mesma área.

É bairrismo, mesmoFoto:

ILUSTRAÇÃO: Daniel Almeida/Estadão

Os empreendimentos gastronômicos na região têm (quase todos) um traço em comum: ocupam imóveis pequenos, muitos dos quais eram antigas residências. “Não precisamos pagar luvas para ocupar a casa”, conta Paulo Sousa, do restaurante Nou, aberto na Ferreira de Araújo em 2008 e já ampliado por uma reforma. Em regiões comerciais movimentadas da cidade é comum que se pague, além do aluguel, as luvas: uma taxa para ocupar um ponto já conhecido.

Paulo diz que ele e os sócios escolheram o local para abrir o restaurante já pensando que queriam uma “área marginal aos centros gastronômicos da cidade, como Jardins, Itaim ou Vila Madalena”.

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O Nou funciona numa casa que era de uma família que frequenta o restaurante e se diverte passeando pelo que eram antigos quartos. É que o outro traço comum do Baixo Pinheiros é o bairrismo: muitos dos clientes moram perto, vão a pé – inclusive os próprios donos dos empreendimentos, que se frequentam uns aos outros.

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“Aqui tem pizza, sushi, bolo e brigadeiro, massa e cerveja. Não preciso sair daqui”, diz Paulo Almeida, dono do Empório de Alto de Pinheiros, inaugurado em 2008, e morador do bairro. Seu negócio começou como um empório mesmo, no lugar de uma antiga padaria, mas virou referência em cerveja. “Quando abrimos, muitos falaram que era maluquice, mas apostamos que tinha público. No fim deu certo”, diz ele, que abre o Delirium Café, ali perto, no mês que vem.

Essa espécie de confraria de gastrônomos formada pelos donos dos estabelecimentos resultou na criação do mapinha ilustrado que indica os restaurantes, confeitarias e bares e também no hábito camarada de recomendar o vizinho. “Quando aqui está lotado, indico algum outro aqui perto”, diz Fernanda Barros, do Le Repas.

O movimento intenso na região tem basicamente dois públicos, dizem os donos das casas: durante a semana, as mesas são ocupadas pelos funcionários das vizinhas Abril, Cetesb, Sabesp e CET, além de produtoras e agências. No fim de semana, vem gente de outros bairros.

A afluência dessa gastronomia pinheirense valorizou a região. Ao renovar o aluguel do Le Repas, Fernanda ouviu do proprietário que o preço dobrara. Maior que o apetite gastronômico, só a fome do voraz mercado imobiliário paulistano.

Os pioneiros

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Há 27 anos, o hoje movimentado Baixo Pinheiros era quase exclusivamente residencial. Mas um pioneiro resolveu fincar a bandeira gastronômica no local: Hamilton Mello Jr., o Mellão, abriu a rotisseria I Vittelloni. “Foi difícil, no começo. Quase não passava carro por ali. As pessoas não circulavam muito”, lembra. Mellão trocou a rotisseria por uma pizzaria, uma das primeiras da cidade a servir pizzas com ingredientes sofisticados. A I Vitelloni até hoje funciona no mesmo lugar, mas com outro dono. Mellão vendeu o negócio há oito anos, antes de ver o boom da região, e hoje tem uma trattoria no Itaim.

Nas trilhas da I Vitelloni veio o bar Pirajá, aberto em meados de 1998. A casa atraiu o público para uma esquina calma de Pinheiros com chopes e extensa carta de petiscos e atmosfera inspirada nos botequins cariocas. O estilo virou marca paulistana de bares e acabou, por sua vez, copiado no Rio. Ali do lado, na Vupabussu, um ano depois, os mesmos donos do bar abriram a pizzaria Bráz, que provou ser possível servir em escala sem perder a qualidade – e movimentou ainda mais o bairro.

Ainda entre os pinheirenses mais antigos, o Dô Culinária Japonesa tem clientela fiel, servindo cortes tradicionais da cozinha fria oriental. Colado na I Vitelloni, a casa completa 11 anos em novembro.

A rua da lagoa

Hoje polo gastronômico, ontem aldeia indígena. À beira do rio Grande (que depois viraria Pinheiros e então seria retificado), em tempos de Brasil colonial, a várzea era habitada por autóctones sob domínio branco. A região era propriedade, no século 17, do célebre bandeirante Fernão Dias Paes Leme. O caçador de esmeraldas (que, depois, descobriu-se, eram turmalinas) passava por ali antes de partir rumo ao interior. Ia em busca da Vupabussu, a mítica lagoa de pedras preciosas no sertão de Minas – que, hoje, dá nome à movimentada rua do bairro de Pinheiros.

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>> Veja a íntegra da edição do Paladar de 10/7/2014

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