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Restaurantes e Bares

Crise fecha o berço do tiramisù, em Treviso

No dia 30, será servido o último tiramisù no restaurante Le Beccherie, da família Campeol, na cidade italiana de Treviso. Foi ali que, nos anos 1970, nasceu esse que é possivelmente o mais famoso doce italiano atualmente. Ada Campeol e o marido, Aldo, junto com o pâtissier Roberto Linguanotto, criaram o tiramisù a partir da taça imperial e dos doces “reconstituintes” servidos nos bordéis da época.

Versão paulistana. Tiramisù do chef Luca Gozzani, do Fasano. FOTO: Felipe Rau/EstadãoFoto:

Fundado em 1939, o Le Bercchiere morre golpeado pela crise econômica. “No dia 30 pago os funcionários, os fornecedores e fecho para sempre”, disse o atual titular, Carlo Campeol, ao jornal Corriere Della Sera. Carlo disse que foi uma decisão sofrida: “Diminuiu a clientela, sumiram os políticos, sumiu a gente comum, empresas fecharam”, contou o restaurateur.

Versão paulistana. Tiramisù do chef Luca Gozzani, do Fasano. FOTO: Felipe Rau/Estadão 

Foi a fama de berço do tiramisù que elevou o Le Beccherie a nível internacional. Mas tal fama não bastaria para mantê-lo de pé para sempre. “Glórias como essa não enchem restaurantes no dia a dia”, queixa-se Carlo. “Deveríamos dar uma virada, mas eu, com 60 anos, não tenho nem vontade nem energia para isso.” Segundo Carlo, o que funciona hoje são bares de happy hour, com drinques e tira-gostos diferentes.

“Dizem que restaurantes costumam fechar na terceira geração. Nosso caso confirma isso”, diz Carlos. Ele ainda não decidiu o que fará com o local – se vende, se aluga, se deixa fechado – nem com a histórica marca Le Becchiere, dos quais a família Campeol é proprietária única.

O Le Becchiere é parte da história de Treviso. Em suas salas, gente das finanças, da política, dos esportes, do cinema, reunia-se em festas agitadas para saborear receitas da família Campeol e produtos da campanha vêneta: os míticos bolliti, a sopa coada, a pasta e fagiole, bruscandoli, zaeti… vêneta.

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Carlo Campeol não economiza amargura. “Agora talvez eu vá ensinar aos outros os erros a evitar”, ironiza. “Sabe qual foi o maior deles? Foi me deixar levar pela afeição, pela tradição, pela história que começou com o nonno e continuou com a geração de meus pais. Neste ramo só há dois tipos de pessoa: os empreendedores com estômago de avestruz e os ristoratori conduzidos pela paixão. Pertenço a essa última categoria.”

E ataca as mudanças que vê ocorrerem na culinária: “Hoje se come no bar, na tabacaria. Por um euro e meio se compra um prato para finalizar no micro-onda. Tudo sem controle, sem regras”.

Luca Zaia, presidente da região do Vêneto, endossa as queixas: “Vai fazer falta um lugar como esse, que reúne tradição e culinária local. A crise econômica é culpada, mas vem ocorrendo também um rebaixamento da cultura gastronômica mundial”.

/TRADUÇÃO ROBERTO MUNIZ

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