“Alô, Kátia? Tenho uma receita que é a sua cara”. Foi assim que Claude Troisgros resolveu presentear a chef Kátia Barbosa, do botequim Aconchego Carioca, com uma receita totalmente diferente das usuais: tratava-se de lâminas de jiló marinadas em vinagre balsâmico e mel. A combinação que a princípio soa estranha, tira o excesso de amargo do fruto. “Essa receita desmistifica o jiló, todo mundo vai amar”, empolga-se Kátia, que apelidou o feito carinhosamente de “Jiló do Claude”.
Uma adaptação da receita incrementada como canapé com queijo de cabra – para tirar o excesso de doce do marinado – foi servida durante a aula “Pelos Botecos do Rio”, na 6ª edição do Paladar – Cozinha do Brasil. A atração principal, no entanto, foi o famoso bolinho de feijoada com couve e bacon que é servido na Rua Barão de Iguatemi, onde Kátia mantém seu “botequim com cara de restaurante”.
A história dessas boêmias casas é contada pelo economista com especialização em botecos cariocas Guilherme Studart, que tenta manter essa tradição viva. “Cada casa dessas que se fecha é um tesouro gastronômico e patrimônio imaterial que se vai”, lamenta Studart e completa dizendo que muita coisa mudou desde a chegada da tradição originalmente lusitana. “Botequim é uma coisa que transcende esse universo gastronômico e faz parte da cultura da cidade. Ele é uma espécie de clube social da vizinhança e tem uma relevância muito grande, coisa que há trinta anos não tinha, era muito mal visto.”
Mas hoje os olhares foram de curiosidade e identificação e a diversão garantida. “Eu to virando madame, gente”, brinca Kátia, contando que agora tem muitos ajudantes para a feitura dos petiscos. Mas ela não se aguentou e saiu por todas as fileiras da sala servindo os bolinhos de feijoada “como num boteco”. Alguém grita lá do fundo: “tá faltando uma coisa aqui Kátia!” A chef se apronta: “pimenta?”. “Não, um choppinho.”