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Brasil mostra a cara em Madri

Com uma encorpada delegação mineira, o País marcou presença no Madrid Fusión, embora a divisão entre Brasil e Minas tenha criado confusão.

Brasil mostra a cara em MadriFoto:

De Madri

O Brasil fez-se conhecer em Madri. Ou, pelo menos, uma parte do Brasil – o Estado de Minas Gerais. Na 11ª edição do Madrid Fusión, encerrada ontem, formou-se uma imagem mais nuançada da gastronomia brasileira, ainda que borrada pela confusão entre o que é Minas e o que é Brasil.

Ao longo do festival, foram três aulas de brasileiros no auditório principal, patrocinadas por MG, além de palestras e oficinas em salas menores. A última delas, ontem, comandada por Alex Atala, foi das mais aplaudidas no Madrid Fusión. Ao final da apresentação, Atala agradeceu ao governo de MG e os 15 chefs mineiros convidados para o Madrid Fusion subiram ao palco com o governador do Estado, Antonio Anastasia. Esmeralda Capel, da direção do festival, comentou que nunca uma delegação teve tanta gente.

A proposta de levar o País ao Madrid Fusión foi costurada no Festival de Tiradentes em 2012. Minas Gerais bancou o patrocínio, viagens de chefs, estandes e divulgação e assim venceu a disputa com Colômbia e China para ser a cozinha convidada do Madrid Fusión. Foram R$ 2 milhões gastos no total, segundo Anastasia (PSDB), que esteve nos três dias de festival. “É um grande esforço do governo e um investimento até pequeno diante da importância do evento”, disse ao Paladar. O governo mineiro entrou com R$ 150 mil. O restante veio das federações de comércio, indústria e pecuária mineiras, segundo o governador.

Abre. Rafael Cardoso dá a primeira aula brasileira no evento. FOTOS: Javier Lizón/EFE

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Em paralelo, a Embratur, com a Associação Brasil à Mesa, levou sete chefs que ficavam em um estande na entrada da feira – e para isso gastou R$ 175 mil. Quase em frente, ficava um dos dois estandes mineiros – o que confundiu o público. Sobre a confusão, Alex Atala preferiu louvar o fato de que, de um modo ou de outro, o Brasil aparece. “Que isso provoque os outros Estados e o governo federal.” Atala citou o Peru como caso bem-sucedido. “Em 2005, eu disse que o Brasil ia ser ultrapassado pelo Peru. Falta integração para a gente.”

A gastronomia é, há alguns anos, produto de exportação, simbolizado pelo fenômeno da Espanha na última década. O próprio Madrid Fusión, apoiado pelo governo, traduz a importância do setor para o país ibérico.

O Peru é um exemplo mais recente de investimento na internacionalização de uma cozinha. Desde 2008 promove um festival gastronômico, o Mistura, capitaneado por Gastón Acurio. Há dez anos, o país participa do Madrid Fusión e, neste ano, teve estande e aulas patrocinadas. “Ao vir como país, construímos uma só imagem, bem definida”, diz Mariella Soldi, assessora da Direção de Promoção de Imagem do Peru. Nesta edição do evento, o Peru gastou US$ 100 mil. “Não é fácil juntar os chefs, mas a Associação para Gastronomia Peruana tornou-se a coluna vertebral para que trabalhemos em conjunto”, afirmou Bernardo Angosto, conselheiro Econômico do Peru na Espanha.

Voo do jiló. Ivo Faria atirou o legume à plateia, que o apalpou.

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FOI BEM

1. Os jovens chefs mineiros Fred Trindade, Felipe Rameh, Pablo Oazen e Leonardo Paixão mereceram fortes aplausos e assobios da sala principal do Madrid Fusión. Durante a apresentação, mostraram o Cerrado mineiro e conseguiram resumir bem a força da tradição da cozinha de Minas Gerais. O presidente do Madrid Fusión, Juan Carlos Capel, tomou o microfone ao fim da apresentação para pedir a manteiga de garrafa que eles mostraram.

2. Alex Atala é o ídolo das multidões gastronômicas. No Madrid Fusión, o chef não dava dois passos sem distribuir autógrafos, tirar fotos e receber os cumprimentos dos outros chefs. O workshop que Atala deu com Rameh sobre a mandioca estava lotado. Eles serviram tacacá e pão de queijo para os participantes.

3. Na abertura de sua concorrida apresentação, Elena Arzak, que trabalha com o pai Juan Mari no restaurante três-estrelas Michelin conhecido pelo sobrenome familiar, citou a cozinha de Minas Gerais como inspiradora ao lembrar aos chefs da vanguarda que comida tem história e não é só técnica.

Fecha. Alex Atala encerrou a participação do Brasil em aula lotada.

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FOI MAL 

1. Na noite do coquetel oferecido por Minas Gerais no Cassino de Madrid, o governador Antonio Anastasia fez discurso todo em português. Disse que ia “hablar despacito” para que os hispanófonos entendessem. Mas eles aparentaram não entender, elevando o volume das conversas paralelas com os anglófonos, francófonos, etc.

2. A aula de Rafael Cardoso e Ivo Faria, no primeiro dia do Madrid Fusión, era sobre a comida de Minas: dos tropeiros ao quintal de casa. Faria jogou jilós à plateia que apalpava o legume amargo curiosa. Mas o vídeo que passaram, no fim, com os chefs convidando os espectadores a visitar as Gerais, assemelhou-se demais a promoção turística corporativa.

3. No estande do Brasil, o queijo coalho não era coalho: barrado na alfândega, foi substituído por um similar espanhol comprado em Madri. Mas no espaço onde ficavam os chefs Mônica Rangel, Wanderson Medeiros, Flavia Quaresma, César Santos, Carlos Ribeiro, Dalton Rangel e Tereza Paim, a mandioquinha e a carne-seca quando servidas geravam burburinho e elogios.

* O repórter viajou a convite do España Exportación e Inversiones (Icex)

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>> Veja todos os textos publicados na edição de 1724/1/13 do ‘Paladar’

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