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Beaujolais promete vinhos melhores

Nova safra da região francesa promete ser excepcional; pesquisa quer identificar microrregiões e estabelecer Premier Cru

Beaujolais promete vinhos melhoresFoto:

Beaujolais anda movimentada. Para começar, os críticos estão esperando uma safra excepcional em 2015. Jane Anson afirmou em sua coluna semanal da revista britânica Decanter que a colheita deste ano pode funcionar como “uma vitrine para a grandiosidade” que a Gamay, cepa tinta primordial da região francesa, pode alcançar.

Está também em andamento uma pesquisa que quer identificar os climat (termo em francês usado para designar espécie de microclima, característica importante dentro do conceito de terroir),  dos 10 crus da região. O estudo, que vai durar um ano, já publicou informações sobre os solos, mostrando que são mais complexos do que era imaginado. A ideia é emular o que ocorre na Borgonha e finalmente estabelecer um Premier Cru.

FOTOS: Divulgação

Mas Beaujolais também tem abrigado polêmica. Neste mês, Sébastien Coquard, presidente da Beaujolais ODG, um organismo de gestão dos produtores da região, renunciou ao cargo ao afirmar ter recebido tratamento “inaceitável” dos vinicultores. Além disso, a área foi palco de conversas tensas entre produtores e negociantes por conta dos praticados, além de ter assistido a um enorme número de vinícolas se desligando da UVB (União Vinicola de Beaujolais).

Se a união faz a força, ao que parece, a desunião não deve prejudicar tanto assim. Com a reputação manchada no último quarto do século 20, a região de Beaujolais faz um esforço de marketing hercúleo para se mostrar fragmentada, heterogênea. A ideia é provar que seus vinhos têm preço e qualidade usando como chave seus diferentes crus. Deixar de ver a região como produtora de algo único e pasteurizado, e celebrar as peculiaridades de cada terroir, no melhor estilo “vive la différence”.

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O Paladar foi convidado a participar de uma dessas ações de marketing dos produtores da região, um painel de degustação e workshop que incluía informações sobre o tipo de vinificação preferido, com Anthony Collet, diretor de Marketing da InterBeaujolais, instituição que representa os vinhos da região. “As pessoas já entenderam que nós não temos só Beaujolais Nouveau, mas temos que continuar divulgando os crus e promover degustações. O Brasil é um bom mercado, e vejo a crise como uma oportunidade, porque nosso preço é o melhor que os de Bordeaux ou Borgonha”, afirmou em entrevista ao Paladar. O País representa 1% das vendas externas da região, sendo 68% do que é vendido aqui parte das denominações genéricas Beaujolais e Beaujolais Villages – 30% vêm dos crus e pouco mais de 2% de Beaujolais Nouveau.

Apesar de ter iniciado sua apresentação com imagens de japoneses tomando banho em uma piscina de vinho e de aviões carga transportando tonéis para simbolizar a imagem genérica que se tem da produção da região, Collet parece otimista. Ele diz que o estilo de Beaujolais, fresco e frutado, está na moda. “Além do preço, tem sua qualidade gastronômica, de ser leve e versátil”, afirma. Gente importante concorda. Para o crítico do New York Times, Eric Asimov, um Beaujolais é uma delícia sem subterfúgios aprisionados por preconceitos e expectativas.

Além do problema de imagem, a região apresenta outros desafios. No que diz respeito à produção, as vinhas da região estão muito velhas, ultrapassando os cem anos de idade. Se todo mundo sempre ouviu que isso é uma coisa boa, Collet diz que há um limite. “Estão chegando a um ponto que não produzem mais. Precisamos rejuvenescê-las para chegar a um bom equilíbrio”, afirma. Quanto às vendas, os produtores ainda não se atentaram para o fato de que o comércio externo pode ser mais interessante do que o interno para seu negócio. E hoje, a França consome cerca de 60% do vinho de Beaujolais.

FOTO: Reprodução/InterBeaujolais

Conheça os diferentes crus e estilos de Beaujolais

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Além das denominações Beaujolais e Beaujolais Village, dez crus são situados na parte setentrional da região e representam 33% dos vinhedos. Os vinhos são exclusivamente tintos, elaborados com 100% de uvas Gamay.

Brouilly Situado no sopé do Mont Brouilly, é o maior em superfície e mais ao sul dos 10 crus. Seus solos de granito rosa, argila pedregosa e pedras azuis produzem vinhos frutados, com notas minerais e taninos macios. É comum ser consumido ainda jovem, mas envelhece bem.

Chénas O mais “raro” dos crus do Beaujolais, era o preferido de Luís XIII. É elegante, tem bom corpo, notas florais e de madeira. Os aromas são complexos e os vinhos têm potencial de envelhecimento.

Chiroubles O mais alto dos crus, com vinhedos de 400 metros, tem solos de granito rosa e areia e se distingue por produzir bebidas cheias de vivacidade, maciez e fineza. Faz vinhos aromáticos que misturam notas de frutas vermelhas e florais (peônia, íris, lírio do vale, violeta) com uma ponta mineral.

Côte de Brouilly De solo rochosos e vulcânicos azulados, xistos, dioritas e seixos, os vinhos tem um nariz potente de frutas vermelhas, com notas florais, minerais e de especiarias, são equilibrados e bem estruturados. Necessitam um pouco de tempo antes de desenvolver toda sua elegância e complexidade na boca.

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Fleurie Distingue-se pela fineza dos aromas frutados e florais, com toques de violeta, íris e peônia. Os vinhos são elegantes e voluptuosos, com estrutura harmoniosa. A denominação é rica em terroirs prestigiosos como les Roches, la Madone ou Grille-midi.

Juliénas O terroir diverso, com solo rochoso com granito e argila, produz vinhos de cor rubi profundo e intenso, estruturados e harmoniosos. Aliam mineralidade a frescor. Têm bom potencial de guarda.

Morgon Um dos mais célebres crus da região e com um terroir peculiar, produz um vinho carnudo e intenso de cor granado profundo e aromas de frutas de caroço maduras (cereja, pêssego, damasco, ameixa…). Os taninos são intensos – precisa envelhecer para entrar no seu apogeu.

Moulin-à-Vent Batizado por um moinho do século XV, a região produz uma bebida de cor rubi escuro, bom corpo com aromas de íris, de rosa murcha, de especiarias e de frutas maduras. Tem grande potencial de envelhecimento e pode se aproximar das características do Pinot Noir da Borgonha.

Régnie Criado em 1988, é o mais jovem dos crus de Beaujolais. Produz um vinho macio e frutado, fresco e com taninos finos.

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Saint-Amour O mais setentrional dos crus produz um vinho vivaz, fino e equilibrado, de cor rubi e aromas de especiarias.

Conheça três vinhos de Beaujolais

Dominique Piron Morgon La Chanaise 2012 R$ 126,50 na Decanter De cor rubi mediana, tem intensos aromas de frutas vermelhas (cereja, framboesa), taninos finos e boa estrutura.

Domaine Les Gryphées Moulin-à-Vent 2012 R$ 184,90 na Giuliana Flores De cor ruby intensa, tem aromas de rosas e flores brancas. Na boca, é encorpado e longo. Tem potencial de guarda de 10 anos.

Brouilly Comte de Monspey 2013 R$ 140 na Cantu De cor rubi intensa e reflexos violáceos, tem aromas de frutas pretas (groselhas, ameixas) e alcaçuz. Na boca, os taninos ainda não estão totalmente polidos, tem bom corpo e final longo. Melhor em dois anos.

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