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Os fatores que fizeram do Brasil campeão mundial de handebol

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Por Demetrio Vecchioli
Atualização:

Ainda é cedo para medir o tamanho da conquista das meninas do Brasil no Mundial Feminino de Handebol. De cara, a expectativa é de que o título mude completamente o panorama da modalidade no País e crie uma nova liga forte. Afinal, a análise inicial é de que o Brasil tem uma enormidade de atletas em nível escolar e universitário, principalmente no feminino, mas raríssimas são aquelas que consideram a possibilidade de se tornar uma profissional. A conquista de um Mundial e a visibilidade que o esporte pode ganhar, principalmente se conseguir uma medalha em 2016, deve fazer com que mais gente veja futuro no handebol. Assim, menos talentos serão desperdiçados.

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Lógico que esta é apenas uma análise prévia do que pode acontecer - e do que torcemos para que aconteça. A hora agora, porém, é de entender os fatores que levaram o Brasil ao título mundial, que pouca gente julgava possível meses atrás. E que talvez ninguém acreditasse há três anos.

Abaixo, listo oito fatores. Começando pelo Mundial de 2011, em São Paulo, passando pelo trabalho do técnico Morten Soubak e pelo intercâmbio realizado na Europa.

1 - MUNDIAL EM CASA - Fator determinante para o título foi o Mundial realizado em São Paulo em 2011. O caminho já era conhecido. O basquete e o vôlei já haviam dado o exemplo. Em 1954 o Brasil recebeu um Mundial Masculino de Basquete. Ganhou o Mundial seguinte e foi bronze nos Jogos de 1960 e 1964.

Em 1990, organizou um Mundial Masculino de Vôlei. Dois anos depois era campeão olímpico. Em 1994, a primeira medalha do vôlei feminino veio num Mundial em São Paulo. Só no basquete feminino não deu tão certo. Entre o bronze no Mundial de 1971, em São Paulo, com Maria Helena e Heleninha, até o ápice com Paula e Hortência foram 21 anos.

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2 - DERROTAS AMARGAS - Jogar em casa em 2011 fez o Brasil pela primeira vez jogar de igual para igual com europeias. No Ibirapuera, as brasileiras avançaram em primeiro na fase de grupos e descobriram que não deviam nada a ninguém em termos de handebol. Mas faltou experiência para vencer a Espanha na quartas de final.

O Brasil chegou como candidato a medalha nos Jogos de Londres, novamente foi o melhor da fase de grupos, mas caiu nas quartas de final contra a Noruega, só a maior escola do handebol feminino. As europeias impuseram seu jogo, de contra-ataque, e venceram de virada. Mas as duas derrotas serviram como lição, mostraram ao Brasil como fazer para vencer um jogo parelho.

3 - ÚNICO JOGO COMPLICADO - Campeão invicto, o Brasil só sofreu chances reais de derrota nas quartas de final (mesma fase das duas eliminações seguidas), quando venceu a Hungria após duas prorogações. Durante o Mundial, inclusive na final, o Brasil soube se manter à frente do marcador o jogo todo. Foram poucos os minutos (de 830) em que a seleção brasileira esteve perdendo.

Ficar à frente no placar é decisivo para vencer um jogo, é claro. E exemplo do sucesso brasileiro veio na semifinal. O Brasil abriu folga, e sempre que a Dinamarca encostou, as brasileiras cavaram dois minutos das rivais. Nas duas punições de dois minutos que a Dinamarca levou, o Brasil fez seis gols e não sofreu nenhum. Vantagem enorme numa partida decidida por dois, três gols. Na final, foi a mesma coisa. A Sérvia quase não liderou.

4 - ALEXANDRA E DUDA- Ao ganhar o prêmio de melhor jogadora de 2012, Alexandra mostrou que o Brasil tinha condições de estar entre os melhores do mundo. A ponta-direita era exemplo disso. Se ela podia, a seleção podia. Ao mesmo tempo, Duda se tornou a melhor do mundo. Campeã da Liga dos Campeões e do Mundial. Será coroada logo menos.

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5 - INTERCÂMBIO - Não é segredo para ninguém que a liga brasileira é fraca. Prova disso é que a final masculina é neste fim de semana. E ninguém está se importante. A CBHb percebeu isso e foi na cola de Alexandra.

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Alê está no Hypo, da Áustria, desde sempre. Aos 32 anos, joga há 10 no time europeu, maior campeão da Liga dos Campeões da Europa, mas que vivia má fase. A CBHb ofereceu uma parceria para levar mais jogadoras para a equipe e permitir intercâmbio.

Hoje jogam lá Dara, Fernanda, Babi, Deonise e Ana Paula. Praticamente a base da seleção. E todas elas estão jogando nos principais times da Europa pelo menos desde 2010. Para completar o time, além de algumas austríacas, uma húngara e uma russa, também duas jovens brasileiras: Carol (19 anos) e Francielle (21), para o futuro. Desde o começo do ano o time é treinado por Morten Soubak.

6 - MORTEN SOUBAK - Diferente de Ruben Magnano no basquete ou Jesús Moran, na canoagem, Morten não era um dos melhores do mundo quando chegou ao Brasil. Em 2005 ele assumiu o Pinheiros e em 2009 chegou à seleção. Foi na equipe que ele se tornou o segundo melhor treinador da temporada passada. E provavelmente o melhor desta. Lógico que o fato de ser dinamarquês pesou demais. Afinal, teve ua base impossível de um treinador brasileiro ter.

7 - CONFIANÇA - Apesar de o elenco campeão contar com 16 jogadoras, o time campeão teve 12 atletas que participaram efetivamente da vitória. As goleiras Babi e Mayssa, as armadoras Deonise e Duda, as centrais Ana Paula e Hannah, as pontas Alexandra, Fernanda, Maiara e Samira, as pivôs Dani Piedade e Dara

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Morten, ao que parece, fez todas as escolhas perfeitas. Apostou em Babi apesar de Chana ser uma das melhores do mundo. Manteve a base do Hypo, apesar do desempenho ruim do time na Liga dos Campeões - foi eliminado na fase de grupos, levando uma lavada história do Gyori, de Duda. Confiou em Dani Piedade, apesar do AVC sofrido pela pivô no ano passado.

Mas o maior acerto foi dar tempo de quadra para Hannah. A jovem tem 20 anos, nunca jogou na Europa, mas ganhou a confiança de Morten. Tanto é que entrou em quadra nos minutos final da decisão, para ditar o ritmo de jogo da equipe. Bateu bola para cima da defesa e fez o gol de praticamente definiu o título

8 - SERIEDADE - O Brasil sobra no handebol pan-americano. Poderia usar um time B que venceria o Sul-Americano e o Pan-Americano. Mas Morten exigiu a presença de todas as estrelas do time nas duas competições e, sempre que pôde, deu tempo de quadra para jogadoras mais novas (como Hannah e Mayara). O Brasil atropelou nas duas competições, ganhou moral e entrosamento.

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