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Videogames de A(tari) a Z(elda)

É preciso amadurecer. Urgentemente.

Por João Coscelli
Atualização:

Quando a Dontnod Entertainment começou a desenvolver Remember Me, nem sequer imaginava que encontraria dificuldades no relacionamento com as publishers. Mas várias dessas empresas torceram o nariz quando perceberam que o game em questão teria uma protagonista feminina, o que tornaria o título menos aceito.

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O caso foi relatado pelo diretor criativo do estúdio, Jean-Max Morris, segundo publicaram vários sites especializados em games, como The Penny Arcade, Gamespot e Gamasutra. "Alguns disseram 'não queremos publicar isso porque não vai fazer sucesso. Não dá para ter uma personagem feminina. Tem que ser um homem, simples assim'", disse o produtor.

Morris afirmou que em nenhum momento a Dontnod pensou em trocar Nilin, a protagonista, de sexo. A equipe jamais pensou que isso traria problemas. Quando essas queixas começaram a aparecer, não era mais possível fazer qualquer alteração nesse sentido. "Queríamos mostrar um pouco da vida particular de Nilin, o que significa, por exemplo, que haveria uma cena em que ela beijaria um cara. Disseram para nós 'você não pode fazer um cara como o jogador beijar outro cara no jogo, vai ser muito estranho'".

Esse tipo de pensamento, tanto das publishers quanto dos jogadores, impede o amadurecimento do fator intelectual dos games, segundo Morris. "Você tem chegar até um certo nível de imersão, mas não é por isso que sua orientação sexual será questionada só por causa de um jogo. Sei lá, isso é muito estranho para mim", concluiu.

O produtor tocou em um ponto importante em seu desabafo. Se o desenvolvimento de games tem evoluído em técnica, narrativa e mecânica, pouco progresso foi feito na questão da aceitação da mulher como agente dessas histórias - aqui no Modo Arcade já falamos sobre isso no post sobre a série de vídeos produzida pelo Feminist Frequency.

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São raríssimos os casos em que o papel principal de um game ficou a cargo de uma heroína. Lara Croft, de Tomb Raider, é o símbolo maior e um dos únicos amplamente conhecidos, além de Samus Aran, de Metroid. Nem por isso a série foi um fracasso. Pelo contrário, tem uma legião de fãs fiéis e até ganhou um novo título recentemente.

A justificativa é que o público tradicional dos games é majoritariamente formado por homens, o que faz com que um jogo com uma mulher no papel principal não passe confiança ao jogador, não seja apelativo o suficiente, enfim, não agrade. A figura masculina é associada à resistência, ao heroísmo, à iniciativa e à virilidade e, por isso, é sempre a primeiríssima opção.

É plausível a opinião de Morris. Se a indústria julga os videogames uma mídia atual e democrática que integra a cultura popular, esse amadurecimento é imprescindível. É absurda a resistência das publishers relativa a uma questão de gênero do protagonista, principalmente numa época em que soa extremamente arcaico fazer qualquer distinção de sexos nesse sentido. Os jogadores, ou pelo menos a maioria deles, pouco ligam se o personagem é homem ou mulher. O que eles querem são games de qualidade e é com isso que essas empresas devem se preocupar, pois é o que de fato interfere no sucesso de uma produção, se é com isso que estão preocupados. Esse tipo de comportamento é extremamente prejudicial à indústria e só tende a disseminar intolerância, o que não beneficia ninguém.

Felizmente a Capcom tem a cabeça mais aberta e abraçou o projeto, que chega no começo de junho. E que Nilin seja só mais uma das muitas protagonistas que surgirão em games futuros.

 

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