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Soluções de marketing para vender jornal

Por Marili Ribeiro
Atualização:

A proposta original era resgatar o jogo que circulou no jornal argentino Clarín entre 1995 e 1998. A direção do jornal pretendia, com a iniciativa, atrair o público jovem. Mas Frederico Poletto, chamado para a tarefa, discordou. Apostava que a nova versão deveria ser apenas online. Ganhou a parada e a versão online fez tanto sucesso que o jogo de futebol, batizado com o nome de Gran DT (algo como grande treinador), vai para a quinta edição.

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O jogo online, que voltou a ativa em 2008, não serviu para alavancar a tiragem do Clarín, mas virou um negócio paralelo do Grupo Clarín. Somente com a venda da moeda usada nesse jogo para a compra e venda de jogadores, a empresa arrecadou US$ 6 milhões nos últimos dois anos. A cada edição o jogo conta com dois milhões de participantes. "Virou uma nova marca para o Grupo Clarín, capaz também de gerar receita com anunciantes, pois conta com grandes patrocinadores como GM, Nokia e Adidas", explica Poletto. "Fora isso, temos planos de expandir a marca Gran DT que pode virar um portal de entretenimento, com vídeos musicais".

A experiência da criação de uma marca independente a partir de um jogo online no Grupo Clarín foi apresentada no seminário sobre o futuro das empresas jornalísticas, que vem sendo realizado em São Paulo desde segunda-feira, e que tem reunido profissionais do meio, promovido pela Inma (Internacional Newspaper Marketing Association).

JORNAL COMO MARCA

A discussão no seminário da Inma tem girado em torno do aumento da audiência dos jornais com iniciativas que, quase sempre, exploram a adoção de novas tecnologias, em especial com a expansão dos conteúdos jornalísticos para os aparelhos móveis, desde os celulares inteligentes e tablets, como o iPad. Mas, por se tratar de um evento que apresenta soluções de marketing das empresas, abriu também a porta para a velha discussão sobre se o sóbrio conteúdo jornalístico, produzido pelos grupos de mídia, pode se misturar com propostas comerciais relacionadas a diversão e entretenimento.

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Na segunda-feira, a vice-presidente de marketing do jornal americano New York Times, Laura Langdon, em nome de difundir a marca jornalística _ vista como uma forma se de destacar no mundo digital _, também falou sobre o clube de filmes que a sua empresa está lançando com o nome do tradicional jornal. Desenvolver ações para difundir a marca dos jornais tem sido uma tendência crescente no setor nos últimos anos.

Alexandre Fonseca, executivo do grupo de mídia português Controlinveste Media, que edita o popular Diário de Notícias, e também o econômico Jornal de Notícias, defendeu ontem o que chama de "mudança de mentalidade no meio jornalístico". Para ele, a área de marketing não pode mais ser discriminada em função dos privilégios da área editorial, que sempre determinou a condução dos negócios da indústria do jornal. "São novos tempos e o marketing tem que fazer parte da concepção e conceituação dos produtos que serão lançados pela empresa".

MIX DE PLATAFORMAS

Graham Horner, diretor de marketing do grupo inglês Telegraph Media Group, que edita o jornal The Daily Telegraph, não tem dúvidas que a indústria do jornal já mudou. Para ele, a produção do conteúdo não pode mais se limitar aos velhos parâmetros e sim considerar o que definiu como "família de mídia". Ou seja, as informações devem ser trabalhadas e empacotadas para diferentes plataformas: os smartphones, com um acento mais factual; o jornal no papel, para atender o mercado mais maduro com tempo para dispor de mais de uma hora de leitura; a versão na internet, onde o uso das informações pode ser mais completo, já que pode se disponibilizar os balanços de uma empresa; e, por fim, os tablets, que devem ter edições mais ágeis com foco no público mais jovem.

Com mais de 200 milhões de smarthphones vendidos no mundo em 2010, Horner não tem dúvida que as empresas jornalísticas têm que atender a essa demanda com acesso a notícias nesses aparelhos. Assim como desenvolver aplicativos para serem baixados nos tablets. O seu grupo lançou há oito semanas a versão para o iPad do The Daily Telegraph. "Estamos tentando saber o que quer esse leitor, qual o modelo de negócios que vamos escolher: se vai ser gratuito ou vamos cobrar. Ainda é um território novo a ser explorado", conta ele.

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No atual período de degustação, o que os dados que chegaram ao executivo mostram é que, em oito semanas, houve 70 mil downloads do aplicativo do jornal. A maioria feita por homens com idade média de 47 anos e 25% deles já compravam o jornal na versão papel. Um perfil que, por enquanto, não difere muito dos assinantes da versão impressa. Porém, quando são chamados a opinar sobre o que querem ler no iPad, eles dizem que preferem algo específico para o aparelho. Não querem ver repetida a edição do jornal. Ou seja, o novo mundo da "informação móvel" pede fórmulas diferentes, o que, na visão de Horner, traz novas oportunidades para o negócio das empresas jornalísticas, que ainda precisam ser compreendidas.

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