Não se trata de levar a sério a reação ridícula e oportunista do chanceler israelense, Avigdor Lierberman, à decisão da comitiva de Lula de não colocar flores no túmulo de Teodor Herzl, fundador do movimento sionista. O compromisso, que Israel tentou incorporar de última hora na programação de Lula, é uma prática protocolar para representantes estrangeiros que foi retomada somente na semana passada - o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, foi o primeiro a colocar flores no túmulo. Com razão, o Itamaraty considerou que Lula não tinha de prestar a homenagem, já que outros chefes de Estado não foram obrigados a fazê-lo no passado. Mas, como Lula vai homenagear o líder palestino Yasser Arafat, colocando flores em seu túmulo, Lieberman viu nisso uma oportunidade de exercitar aquilo que faz melhor: a grosseria diplomática. Mandou dizer que boicotaria a visita de Lula.
A cretinice de Lieberman, contudo, não é o principal sinal do fracasso da visita de Lula, embora tenha o potencial de roubar as manchetes. O principal sinal foi a demonstração de união nacional israelense em torno da necessidade de conter o Irã e seus óbvios planos de construir um arsenal nuclear. Inimigos políticos figadais deixaram de lado suas diferenças para demonstrar a Lula, e a quem pretenda convencer Israel a considerar o Irã um "parceiro de diálogo", que o esforço é inútil. Como disse o presidente Shimon Peres, trata-se de enfrentar um regime que quer a destruição de Israel. Nesse aspecto, não cabe negociar nada.
Assim, se Lula pretendia usar a visita a Israel como prova de suas credenciais de estadista, capaz de mediar intrincados conflitos internacionais, transformando o Brasil em ator pleno no concerto geopolítico, o fracasso foi retumbante. Pena que, em razão da megalomania dos assessores de Lula para assuntos internacionais, o governo brasileiro continuará acreditando que só o carisma do "cara" basta para fazer o mundo se dar as mãos.