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Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|bonito à beça

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Atualização:

Tudo em relação à visita de Obama ao Rio parecia perfeito.

Visita bem-vinda e mais que esperada.

Afinal, que ele tem cara de brasileiro...  Ah se tem.

Camisa do Mengão na chegada.

Hotel em Copa, linda vista, segurança perfeita.

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Futiba na City of God e samba pra mulher da escola mais inovadora, Unidos da Tijuca, na City of Samba.

PSTU armou o barraco pelo twitter, convocando a militância para gritar "Obama Go Home!" na Cinelândia. Com faixas que diziam "Pré-Sal É Nosso!"

Ia ser um tumulto. Baderna desnecessária.

Mas transferiram o evento para a parte de dentro do Municipal.

A elite dos 3 poderes estava presente.

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Convidaram alguns afro-descendentes para mostrar que, diferentemente do que pensava W. Bush, sim, temos negros no Brasil [para quem não se lembra, Bush perguntou ao Lula se há negros no Brasil].

Estavam lá Gil, Alcione, o onipresente Lázaro Ramos e sua linda mulher Tais Araújo, grávida, de branco- pura poesia

Obama começou a falar antes dos jogos da rodada.

Na hora em que a família brasileira almoça.

Todas as mulheres da minha família suspiraram, enquanto a macarronada era servida com berinjela e parmegiana.

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Descobrimos que todas as mulheres da família estão apaixonadas pelo Obama. Tuitei isso, e meus seguidores disseram que em suas casas também era uma babação só.

Obama é gato, lindo. Homem pra casar.

"Helloy Ci-da-de Marravilhosa"

Fez piada sobre o clássico Vasco X Botafogo.

Citou Orfeu, Jorge Ben Jor.

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Parecia um animador de auditório.

Deu tchauzinho para a galera do foyer do quarto andar.

Mas só falou em democracia.

Estranho.

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Ora, seu discurso não era para nós, mas para o povo das Nações Árabes, que incendeiam a região, para tirar tiranos ou reis ou líderes tribais que estão há décadas no Poder e experimentar um pouco de modernidade política.

Seu discurso era para a Líbia, seus eleitores e o mundo, que via pela CNN 110 mísseis serem lançados de sua máquina bélica.

Afinal, o mundo avança, as redes sócias mudam a rotina de todos os povos, e temos mais uma guerra ao vivo pela CNN e balas traçantes riscando os céus noturnos agora de Trípole.

Mas que cara-de-pau esse Obama...

Ele ainda lembrou a luta de Dilma pela democracia nos anos 60-70 e as manifestações e passeatas ali na Cinelândia.

Obama falava para seus aliados, não para nós. Visava à reeleição.

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E esqueceu de dizer que seu país, os EUA, apoiava a ditadura brasileira.

Seria uma boa oportunidade para pedir perdão.

Apoiou os golpes de estado daqui, do Chile e da Argentina, temendo a nacionalização de suas companhias por governos democratas mas considerados socializantes. E entupiu nossas polícias com agentes da OSS e CIA especialistas em tortura.

Esqueceu de dizer que seu embaixador foi o primeiro a ser sequestrado em 1968 pela guerrilha brasileira, que estudantes apedrejavam empresas americanas, queimavam bandeiras e pichavam "Yankes Go Home!"

 Foto: Estadão

Para terminar, citou uma frase de Paulo Coelho bem ao estilo "só vocês conseguem superar seus problemas".

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Poderia ter terminado com Lima Barreto, Machado de Assis, negros como ele.

Ou um poeta mais digno, Castro Alves, Drumond.

Vinicius?

Ou Monteiro Lobato, o primeiro a escrever que um negro seria presidente americano.

Sua assessoria errou feio ali no "quote" [citação] de um grande escritor.

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Ou não. Mostrou com quem Obama se identifica.

Amamos Obama, seu sorriso e simpatia.

Derrotar Bush foi um alívio.

E tivemos uma tremenda lição de política: como falar sem dizer nada, mandar mensagens subliminares, sorrir e encantar, usar o emocional, ao mesmo tempo em que sua máquina continua jogando mísseis, oferecendo sondas de petróleo, tecnologia para jogos olímpicos e caças, enquanto nossas commodities são taxadas lá.

Ao final, uma visitinha ao Cristo Redentor foi a cereja do bolo.

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Bolo diet, com gosto de nada, mas bonito à beça.

Deve estar no Chile agora dizendo como Santiago é bela, Victor Jara é fenomenal, e como a força do povo chileno, demonstrada pelo resgate heroico dos mineiros, é inspiradora.

Citou Bolano ou Neruda?

Será que foi por saber disso que Lula nem deu as caras?

Opinião por Marcelo Rubens Paiva
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