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Opinião|Tirando os véus do horror da guerra no Iraque

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Da dupla Ken Loach & Paul Laverty não se poderia esperar menos do que um filme agudo e sem concessões sobre a guerra no Iraque. Rota Irlandesa, a chamada mais perigosa estrada do mundo, corta como navalha e desvenda os interesses econômicos escusos envolvidos na guerra inventada por Bush como resposta ao 11 de setembro.

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 Fergus (Mark Womack) investiga a morte do seu parceiro Frankie (John Bishop) acontecida na tal da Rota Irlandesa. Descrente das versões oficiais, baseia sua investigação em imagens depositadas no chip de um celular. Elas mostram a chacina de uma família e essas atrocidades podem estar ligadas ao destino de Frankie.

 Acontece que, diferentemente do que se narra em outros filmes de guerra, e sobre esta guerra em especial, Fergus e Frankie não são apresentados como dois anjos. Para começo de conversa, são mercenários. Lutam a soldo. Por grana. Depois, a própria consciência culpada de Fergus o conduz à revelação dos métodos empregados no Iraque. A busca pela verdade do fim do parceiro é uma descida ao seu próprio inferno.

 Claro, é o sentimento de culpa, ou de responsabilidade, que move Fergus em sua busca obstinada. Ele mesmo sabe que está colocando o pescoço em risco mas, para quem passou pelo Iraque, isso talvez seja o de menos. Loach e Laverty, a dupla que produz filmes de reflexão sobre o homem e seu mundo, sabem que o ser humano não é apenas um agente livre em busca de lucro. A lógica mercantil tem seu peso, mas talvez não diga a última palavra sobre todos nós.

 Desse modo, para tirar o véu caridoso que cobre a realidade sobre a intervenção no Iraque, criam um personagem trágico. Que também tem culpa no cartório mas, à melhor maneira dos trágicos, precisa acreditar numa segunda chance para se redimir. Mas não espere que a hipótese da segunda chance sirva de caminho para uma redenção cristã. Seria uma concessão que Loach e seu parceiro, ambos muito politizados, não se permitiriam.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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