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Opinião|Terapia de Risco

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

O eclético diretor Steven Soderbergh joga, em Terapia de Risco, na forma mista da denúncia e do thriller psicológico. Autor de filmes tão diversos quanto sexo, mentiras e videotape (com o qual ganhou uma Palma de Ouro), a série pipoca Ocean Eleven, e o díptico político Che, Soderbergh amealhou tantos fãs quanto detratores e de vez em quando se diz saturado e que pode abandonar de vez o cinema.

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Enquanto não se decide, vale conferir este Terapia de Risco, filme tão irregular quanto atraente. Nele, vemos em primeiro lugar a mocinha Emily Taylor (Rooney Mara) cujo marido, preso em razão de nebulosa maracutaia financeira, é solto depois de algum tempo de prisão. Inexplicavelmente (mas a mente humana é assim mesmo), Emily vê-se presa de uma insidiosa depressão. Após um acidente suspeito, é levada a tratar-se com o dr. Jonathan Banks (Jude Law, na foto). Ele propõe à paciente um antidepressivo ainda em fase experimental. O remédio ajuda, mas também apresenta efeitos colaterais perigosos, conforme avisa o título original.

Estamos em pleno filme denúncia sobre os malfeitos da indústria farmacêutica e as promessas de felicidade contidas nas novas drogas? Em termos. Quando os tais efeitos colaterais se revelarem de fato catastróficos, Soderbergh, talvez erradamente, desvia o foco para uma trama rocambolesca na qual o dr. Jonathan passa a ter justificada impressão de que estão tentando lhe passar a perna. São muitas as reviravoltas, inclusive com a presença em cena de uma segunda profissional da saúde mental, a encantadora doutora Victoria Silbert vivida pela não menos estonteante Catherine Zeta-Jones.

Num mundo muito aplainado e sem contraste, como costuma ser o do cinema, é reconfortante ver personagens moralmente ambíguos. No entanto, a ambivalência não é levada ao grau de complexidade que seria desejável a um drama como esse. Após a enésima reviravolta da história, sentimos que existe nela algo de artificial, que não casa bem com alguns insights do diretor. Por exemplo, quando ele identifica numa expressão da paciente uma citação literária de William Styron, ficamos pensando em Borges e em seu Tema do Traidor e do Herói, cuja trama é toda construída sobre Shakespeare. Mas a hipótese revela-se ilusória.

Embora mantendo a expectativa, à custa de às vezes beirar ao ininteligível, Terapia de Risco se esquece um pouco da vocação inicial e deixa em paz a indústria farmacêutica. Nem haveria motivo para tanto, pois o remédio que imagina, Ablixa, é, obviamente, fictício. Seja como for, esse filão é deixado em segundo ou terceiro plano, o que diminui o interesse do filme, ainda assim um bom thriller.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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