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Opinião|Robin Williams, o versátil

 

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

O ator Robin Williams morreu ontem, aos 63 anos. Fala-se em asfixia e especula-se sobre suicídio. O ator tinha problemas com álcool e drogas.

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Williams era tão talentoso na comédia como no drama. Era um ator e atores interpretam o que lhes é pedido. Mas não é tão fácil encontrar esse tipo de versatilidade. Era tão convincente interpretando um tipo de histórias em quadrinhos, como Popeye, como o professor apaixonado por literatura em Sociedade dos Poetas Mortos.

Aliás, foi esse filme de 1989 que lhe deu aura universal de grande ator. Interpreta o professor John Keating, que tenta inocular em alunos indiferentes a arte e o encanto da poesia. Faz isso de maneira muito sedutora, transfigurando a literatura naquilo que ela no fundo é - uma grande aventura -, aspecto que se torna oculto por séculos de educação careta e redutora. Keating tira a casaca da poesia e a apresenta como forma vital aos jovens. E, por extensão, ao público do filme. O papel valeu-lhe o Oscar de melhor ator.

É preciso observá-lo em cena para compreender como consegue transmitir seu fascínio aos jovens alunos. Tem a energia física e mental que torna sua expressão absolutamente encantadora. Na verdade, ele se torna um intérprete da poesia. Um "ator" da poesia, por assim dizer. E, desse modo, ela sai dos livros e ganha vida própria.

Esse talento, Williams empregou em Patty Adams ou Capitão Gancho. Mesmo em filmes menores, como Uma Noite no Museu, seu carisma revela-se de maneira marcante. O verdadeiro ator torna grandes mesmo os pequenos papeis. Nós o vimos no exercício dessa versatilidade no recente O Mordomo da Casa Branca, como o presidente Eisenhower. E já estávamos habituados a ela desde o estranho Parry, em O Pescador de Ilusões, de Terry Gilliam.

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Além de sua energia, Robin Williams tinha essa face elástica, moldável a expressões e que, se não controlada, o levava próximo da caricatura. Era como um músico dotado de grande técnica que às vezes abusa do virtuosismo e passa à ostentação. Jack Lemmon tinha um pouco disso também.

É bem possível que, no quadro de um cinema menos comercial como o dos Estados Unidos, um talento como o dele tivesse sido chamado para papeis mais empenhados, do ponto de vista artístico. Em Hollywood fez de tudo, de pequenos papeis a protagonista em aventuras como as do Capitão Gancho ou o Barão de Munchausen. Ele topava qualquer parada - e ganhava todas em função do enorme dote da intepretação que recebeu.

Deixa então um legado muito extenso em obras e muito reconhecimento por parte da crítica e da Academia de Hollywood. No entanto, neste momento de luto para o cinema, e balanço prematuro de uma carreira que deveria ir bem mais longe, creio que Sociedade dos Poetas Mortos fica no topo, como sua obra inesquecível. O legado é o do professor, que tão bem encarnou, ao ensinar que a arte não pode tudo, mas faz a diferença na vida de um ser humano.

É pena que ela, a arte, não o tenha salvado dos seus demônios internos e angústias.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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