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Opinião|Diário de Paulínia 2014 - A História da Eternidade e Infância fecham a seleção de longas

 

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Os dois últimos longas-metragens da competição, A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante, e Infância, de Domingos Oliveira, não decepcionaram. Muito ao contrário. Fecharam muito bem a mostra competitiva do 6º Festival de Paulínia.

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A grande vedete da noite foi Fernanda Montenegro, que faz a matriarca Dona Mocinha, em Infância. Ela é avó do garoto, Rodrigo, alter ego do diretor. É uma infância na alta burguesia carioca nos anos 50, com dona Mocinha já viúva e muito ciosa do seu poder sobre a família e suas propriedades remanescentes. É uma fanática por Carlos Lacerda.

De construção muito bonita, mise en scene clássica, ótimos diálogos falados por um grande elenco, Fernanda à frente. Ela foi ovacionada no Teatro Municipal de Paulínia ao apresentar o filme. É a grande dama do cinema brasileiro, não há dúvida. E está maravilhosa no papel de Dona Mocinha, com seu controle absoluto sobre a família, interpretação cheia de nuances e pontos fortes.

Domingos faz este filme memorialístico porém não autocentrado. É todo um tipo de mentalidade de época que se expõe, através da intimidade da família. Paulo Betti, como o genro deslocado na família, e sobre o qual pesa a suspeita de desonestidade, é outro ponto alto do filme. Na verdade, uma beleza de trabalho de Domingos, o mais autoral e empenhado de seus últimos filmes.

A História da Eternidade, de Camilio Cavalcante, põe em cena figuras míticas do sertão. A matriarca sofrida, Zezé Matos, a garota que deseja ver o mar, o pai autoritário e bêbado (Claudio Jaborandy) e o artista da família (Irandhir Santos), desprezado e epilético. Há uma tragédia anunciada que, por paradoxo, se cumpre quando a esperada chuva finalmente chega para irrigar o sertão.

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Tudo é muito medido, sem que a emoção seja empanada pelo rigor. Camilo trabalha durante longo tempo com a câmera fixa, até soltá-la e passar a filmar em travellings. É filme de cinéfilo, porém nunca estéril. Mais uma vez: a linguagem do cinema está a serviço do que se tem a dizer e nunca é um valor em si mesma.

A premiação sai hoje à noite.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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