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Opinião|Diário de Gramado 2014 - Alceu Valença faz boa estreia no cinema

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
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GRAMADO - A morte do governador Eduardo Campos foi lembrada na noite de ontem pelo cantor e compositor, e agora cineasta estreante Alceu Valença, no palco do Palácio dos Festivais. "Foi uma tragédia, o Eduardo, o Dudu, era um político de verdade, numa época em que precisamos deles mais que nunca", disse. Alceu lembrou também do apoio de Campos à cultura pernambucana, em particular ao cinema, em seus dois governos no Estado.

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Com a Luneta do Tempo, Alceu Valença faz uma boa estreia como cineasta. Compõe uma ópera popular nordestina com Lampião (Irandhir Santos) e Maria Bonita (Hermila Guedes), lutando e amando num sertão místico, onde bem e mal coexistem, numa trama cheia de música, furor, magia e encantamento.

Nessa ópera popular, o cordel tem lugar de honra, assim como a música, e as representações populares convivem com a realidade. Assim, a história verdadeira de Lampião, traído por um coiteiro e morto pelas volantes em julho de 1938, rebate-se na história real sendo contada no picadeiro de um circo. Alceu compôs a maior parte da envolvente trilha sonora (há músicas incidentais também) e encontrou no fotógrafo Luis Abramo parceiro ideal para o seu (belo) delírio visual.

Claro, o filme tem irregularidades, começa lá em cima, e na segunda metade baixa um pouco o tônus. Mas, dentro dessa irregularidade, há invenção, beleza e amor pela cultura brasileira. Um sentido barroco da existência, fiel à matriz nordestina do autor. Bem à sua maneira, o falastrão compositor, e agora cineasta, declarou alto e bom som: "O brasileiro tem de tomar vergonha na cara, parar de imitar os outros e mergulhar em sua própria essência, em sua cultura", disse. A Luneta do Tempo é o filme que o grande escritor Ariano Suassuna, morto há pouco, adoraria ter visto.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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