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Opinião|Bling Ring - o cinema de superfície de Sofia Coppola

 

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Bling Ring é um exemplo perfeito do cinema soft e alusivo de Sofia Coppola. Baseada na reportagem de Nancy Jo Sales para a revista Vanity Fair, a história é a de um grupo de adolescentes que entrava em casas de celebridades para furtar produtos de grife e dinheiro. Invadindo mansões de gente como Paris Hilton, Lindsay Lohan e Audrina Patridge, os rapazes e moças fartavam-se de produtos Prada, Birkin e Louboutins. E também levavam os dólares que encontravam pelo caminho.

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Sofia procura manter tom neutro ao mostrar o grupo. Apenas observa aqueles rapazes e garotas bem nutridos que costumamos ver nos filmes highschool americanos. Autoconfiantes (ao menos em aparência), meio desligados do mundo, interessados em roupas de marca, namoricos, baladas, vivem plugados fulltime em seus aparelhinhos eletrônicos.

A diferença, aqui, é que o grupo simplesmente "passa ao ato"como se diz em psicanálise. Não apenas cobiça, mas se apropria daquilo que deseja. Há dois tempos no filme, e eles são intercalados na tela. Num primeiro, vemos a turma em ação. Num segundo, eles já foram apanhados e estão respondendo na justiça por seus atos.

Existe, claro, um comentário nem tão sutil assim de uma das implicadas. Ela entende que, furtando celebridades, no fundo roubou-lhes a fama e tornou-se ela própria uma dessas figuras da mídia contemporânea. Estamos em plena era do espetáculo (o pobre Guy Debord, que forjou o termo em 1968 não poderia imaginar o que viria depois). Ser conhecido é o que conta.

Como crônica de costumes, Bling Ring é interessante. Mas, como acontece com frequência no cinema de Sofia, ela não mostra estômago para descer mais fundo nos problemas. Não é uma mergulhadora. Às vezes esse nado de superfície funciona, como em Encontros e Desencontros, talvez seu melhor trabalho. Outra, nos deixa com uma sensação de desapontamento ao final, como é o caso deste Bling Ring, que em mãos mais ambiciosas poderia ser um raio-X poderoso da alienação contemporânea, mas com Sofia revela-se apenas uma interessante crônica de costumes, e pouco mais.

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Cotação: BOM

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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