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Trivial-urbano-internacional

Publicado no Paladar de 19/1/2011 Tomada 1. É noite de casa cheia, e o pequeno salão está agitado, com muitos decibéis de barulho. Estamos na Vila Madalena e não é descabido dizer que o clima é de bar para jovens, não de restaurante. Momentaneamente, me lembro dos shouters, os gritadores, cantores do velho blues que, na época pré-microfone, faziam sua voz ser ouvida entre os instrumentos pela força dos pulmões. É mais ou menos assim que eu me comunico com os atenciosos garçons e com quem partilha comigo a refeição. Tomada 2. É hora do almoço, no fim de semana. A predominância é de casais e de famílias, e a atmosfera é tranquila, dá até para ouvir a música ambiente, em volume bastante moderado. O salão, com mais luz e menos ruído, fica muito mais exposto em seu estudado despojamento. Só não muda o estilo de serviço, que prossegue em tom cordial. Ainda que os cenários sejam bastante distintos, estou falando de um mesmo lugar, o novato Ruaa, autodeclarado partidário de uma cozinha dita urbana. Pelo cardápio, é possível perceber o pendor por receitas de aceitação internacional, como gazpacho, boeuf bourguignon, hambúrguer. Assim como uma prosaica revisão da comida de rua (ah, agora você entendeu o nome da casa), em itens como yakissoba, fish & chips e satay ? os espetinhos de origem indonésia. Não existe rebuscamento nas propostas do chef Fernando Pereira (ex-Arturito): pratos de execução descomplicada, por vezes quase triviais, a preço abaixo da média. Algo que condiz com o próprio fato de a casa não ter couvert nem cobrar pela água, oferecida em garrafas que vão sendo repostas constantemente. Mas que não significa ausência de espaço para algumas boas surpresas. Como foi o caso das lulas grelhadas com páprica e batatas bravas (R$ 16), do satay de camarões (R$ 16, em cocção exemplar, quase crus por dentro), dos pastéis de forno (R$ 16), do pernil com batatas (R$ 36) ? e, entre as sobremesas, do bolo de laranja e cachaça com sorvete de chocolate amargo (R$ 12). Por outro lado, acho que a cozinha ainda não se entendeu bem com os peixes. Tanto o robalo no vapor com legumes grelhados (R$ 39) como o fish & chips (R$ 35, feito com traíra empanada e servido com batatas bolinha marinadas e salada coleslaw) estavam cozidos além do adequado. Eu costumo dizer que ponto é técnica, não é sorte. E, particularmente, acho que quem consegue preparar camarões da forma rigorosa como os do satay há de acertar também nos pescados. Muitas vezes, a despretensão surge como subterfúgio para justificar uma certa negligência. Em outras, ela se transforma apenas no discurso de quem quer só o morno, o mediano. Não é o caso do Ruaa, que usa a simplicidade como linguagem de expressão de um receituário de domínio público, mas executado com capricho. Enfim, um assunto que rende conversa. Agora, se você quiser falar sobre isso em alguma das apertadas mesas, vá na hora do almoço. Os motivos, eu já expliquei lá no começo. Por que este restaurante? Porque é uma novidade, quem sabe promissora. Vale? Há muitas entradas abaixo dos R$ 20 e muitos pratos em torno dos R$ 30. É uma boa relação preço/qualidade. Ruaa - R. Mourato Coelho, 1.168, Vila Madalena, 3097-0123. 20h/0h (6ª até 0h30; sáb., 13h/17h e 20h/0h30; dom., 13h/17h; fecha 2ª). Cc.: M e V

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