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Sem ordem nem script, mas com sabor

Há momentos em que fico em dúvida se a descrição detalhada de uma refeição facilita ou dificulta a vida dos leitores. Digo isso porque fui ao Tian e provei tantas, e tão variadas coisas, que paira um certo receio de transformar o relato das visitas numa longa lista de preparações, algumas delas com nomes complicados. Pelo sim, pelo não, eu vou direto à síntese da aventura: comi bem, por um preço decente.

Tian. Cozinha propõe uma fusão asiática de perfil moderno e cotidiano. FOTO: Nilton Fukuda/Estadão

O Tian foi aberto em fevereiro, no Itaim Bibi. À frente do projeto estão a chef tailandesa Marina Pipatpan, uma das fundadoras do já longevo Mestiço, e o restaurateur Marcus Mikulis. Sua cozinha (a execução é do chef Fernando Souza) propõe uma fusão asiática de perfil moderno, cotidiano. E desenha um mapa de fronteiras borradas, misturando tradições de Vietnã, China, Tailândia, Coreia, Japão, Filipinas. Mas o modo de usar, por assim dizer, é o seguinte. As porções não são grandes (a maioria custa entre R$ 20 e R$ 30) e a ideia é pedir várias delas, de preferência compartilhando. Também não há ordens nem sequências definidas. Ficou pronto, vai sendo servido. Isso significa que a mesa pode se transformar numa bagunça, no bom sentido, de uma hora para outra. Os tuna nachos, com massa wonton e tartar de atum, são picantes e quase divertidos. O polvo com gengibre e shoyu, cozido a baixa temperatura e marcado por fora, é extremamente macio. O curry de pato tem lascas tenras da ave, e não poupa paladares ocidentais: arde com convicção. As costeletas de cordeiro passam por uma aromática marinada e são finalizadas na chapa. A versão do famoso pad thai, com massa de arroz, camarões, brotos de feijão, respeita a riqueza de texturas da receita original. Os pork buns, os pãezinhos feitos no vapor e recheados com pernil, são leves e bem temperados. Não foram poucos os momentos em que me vi confundindo talheres convencionais e ohashis, quando não usando os dois ao mesmo tempo. Não é fácil um restaurante se sair bem em sugestões tão distintas entre si. E o Tian mostra desenvoltura em meio à diversidade. A segurança em harmonizar texturas e pesos, por outro lado, não me dá a impressão de se repetir nas sobremesas. O kaoniew mamuang (R$ 12), espécie de bolinho de arroz com cobertura de coco e manga, por exemplo, é quase neutro ? embora, eu sei, se aproxime do espírito do clássico tailandês. O trio de crème brûlée (R$ 18, com gengibre, capim-limão, chá tailandês), por sua vez, leva à velha questão: será que compensa apostar na variação, quando ela não tem muito a acrescentar sobre a receita original? No cotejo dos sabores, enfim, salgados, ácidos e amargos levam vantagem sobre os doces. Mas o saldo é positivo.

Por que este restaurante?

Não é uma novidade ou coisa do tipo. É só um lugar onde comi bem em visitas recentes (embora não tenha me impressionado à época de inauguração).

Vale?

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Pedir quatro ou cinco itens para duas pessoas é uma boa conta. Sem bebida, gasta-se entre R$ 50 e R$ 70 por cabeça. Vale o programa.

SERVIÇO - Tian

R. Jerônimo da Veiga, 36, Itaim Bibi Tel.: 2389-9399 horário de funcionamento: 12h/15h e 19h/23h (5ª e 6ª até 0h; sáb., 12h/16 e 19h/0h; dom., 12h/17h) Cc.: todos Estac.: manob. R$ 18

>> Veja a íntegra da edição do Paladar de 26/9/2013

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