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Passeio ibérico em 200 metros

Publicado no Paladar de 10/2/2011 Espanha e Portugal, nações vizinhas, também são territórios quase fronteiriços na Rua Antônio das Chagas, na Chácara Santo Antônio, longe do eixo dos restaurante mais badalados. Separados por poucos metros, tanto o La Parrilla quanto o Tonel servem cozinha tradicional, quase caseira, sem nenhum grande aparato. Mas com singela fidelidade à culinária dos países que os inspiram. La Parrilla. A casa surgiu há 40 anos e é comandada pela família Rodriguez, vinda de Santiago de Compostela. Jesus, o pai, de 81 anos, supervisiona os fogões e a grelha, enquanto os filhos Manolo e Luiz cuidam do salão de forma cordial. É o típico restaurantão de bairro, à antiga, com salão espaçoso e decoração austera. No cardápio, há várias opções triviais, além de chuletas e T-bones na brasa (só às quartas e sábados). Mas também especialidades mais óbvias como paella e zarzuela (R$ 82, para dois) - a caldeirada de frutos do mar, com lula, mexilhões, camarões e côngrio, num molho bastante equilibrado. Porém, eu gostei em especial da tortilha de bacalhau, um item típico do norte espanhol (e do País Basco mais especificamente) que não se encontra muito pela cidade. O prato demora para ficar pronto, mas chega à mesa alto, úmido, com farto recheio de bacalhau em lascas (e suas espinhas, é bom avisar), batatas e cebolas. Custa R$ 96 e tem uma particularidade importante: dá para umas seis pessoas, sem possibilidades de preparar meia porção. Por quê? É o tamanho da frigideira, segundo a casa. Carta de vinhos o La Parrilla também não tem. Na verdade, as poucas opções disponíveis fazem lembrar o tempo em que não havia quase oferta de rótulos importados no mercado brasileiro. Mas dá para se divertir com coisas simples, como o verde português Calamares (R$ 38, aquele do rótulo com a lula), servido bem gelado. Ou levar o próprio vinho, pagando uma taxa de R$ 15 pela rolha. Tonel. Este pequeno restaurante tem jeito mesmo é de boteco. E se apresenta, bem-humoradamente, como um bistrô lusitano. Não deixa de fazer sentido: se a fórmula "cardápio sucinto/comida farta+atmosfera despojada+ atendimento familiar" é uma das características do estilo bistrotière, a autodenominação tem lá sua justiça. Quem cuida das panelas e assadeiras é dona Hermínia Carvalho, filha de portugueses; quem atende a clientela são sua filha e seu neto. O cardápio, enxuto, contempla basicamente o bacalhau, apresentado nas preparações mais conhecidas pelo público, como à brás, à gomes de sá, à zé do pipo, entre outras. Servindo pratos para dois (que, na verdade, sustentam três) ou fartas porções individuais, o pequeno restaurante se impõe pela comida apetitosa e pela lida bastante competente com o peixe símbolo de Portugual. O serviço é bastante informal e, obviamente, não há luxos. Mas é de se admirar o cuidado dedicado a alguns detalhes, como o ritmo da refeição. Dona Hermínia fica atenta se está faltando pão e azeitonas na sua mesa; ou se a saborosa alheira (R$ 15,50) ou outro petisco já foi devidamente terminado antes de liberar o prato principal. Que pode ser, por exemplo, o bacalhau à lagareiro (R$ 35 a porção individual) com batatas, uma pedida que vale o passeio: trata-se de Gadus morhua de ótima qualidade, bem dessalgado, sutilmente chamuscado por fora e muito tenro por dentro, com a gelatina bem preservada. Lembra mesmo a comida despretensiosa das pequenas tascas de Lisboa. La Parrilla R. Antônio das Chagas, 615, Chácara Santo Antônio, 5181-6960. 11h30/16h (fecha dom.). Cc.: todos Tonel R. Antônio das Chagas, 409, Chácara Santo Antônio, 5181-5441. 12h/15h30 (sáb. até 16h; fecha dom.). Cc.: todos

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